Gestão e Negócios
Com 140 mil lojas no País, 70% delas de pequeno porte e gestão familiar, o varejo de materiais de construção vem passando por transformações importantes durante a pandemia. Nos últimos dois meses, o percentual de consumidores que compram online algum produto de material de construção saltou de 24% para 40%, mas esse é um setor ainda pouco digital. Segundo a Anamaco, nas compras online a ferramenta mais usada é o envio de e-mails para a loja, seguida por deixar os dados para que a loja retorne o contato. A compra no e-commerce tradicional é apenas o terceiro meio mais usado.
Com barreiras como prazos longos de entrega e valor elevado de frete, além de itens que normalmente demandam um atendimento mais consultivo, o setor de materiais de construção tem um longo caminho a percorrer em sua transformação digital. “Essa não é uma agenda somente de grandes empresas, e sim de negócios de todo porte”, afirma Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), durante live realizada pela Votorantim Cimentos nesta semana. “O que muda são as aplicações. O que funciona para um grande home center em uma capital não pode ser aplicado da mesma forma em um pequeno lojista do interior”, comenta.
O executivo alerta que a digitalização dos negócios não pode mais ser associada à criação de uma plataforma de e-commerce. “O e-commerce é uma alternativa digital, e talvez possa nem ser a mais importante para o seu negócio. Aplicativos de mensagens como o WhatsApp e as redes sociais são exemplos de ferramentas que têm crescido muito como alternativas para alcançar o consumidor onde ele estiver”, explica.
Mude a forma de fazer varejo
Mais importante que pensar no uso de uma ou outra ferramenta digital é entender que é preciso mudar a forma de se fazer varejo. “Aquele modelo de loja que abre de manhã e fecha à noite esperando o cliente ir buscar produto morreu. Já vinha morrendo, o Covid-19 só acelerou isso”, afirma Terra. Para ele, a loja física precisa existir, é importante no relacionamento com o cliente, mas não pode mais ser passiva. Isso faz com que o papel dos vendedores mude. “Eles passam a usar a base de clientes para contatá-los ativamente, pelas redes sociais e WhatsApp. Os vendedores precisam buscar o cliente fora da loja, interagir com eles no digital para levar para o físico. É uma maneira diferente de pensar o relacionamento com o consumidor”, diz.
Para atender clientes com hábitos cada vez mais digitais, as empresas precisam acompanhar essa evolução. “Quanto menos iniciativas digitais um varejista tem, mais distante ele está do consumidor”, comenta Terra. Para ele, empresas de qualquer porte precisam investir na transformação digital. E não precisa ser algo complexo. “Dada a sua realidade de mercado e sua maturidade digital, defina algumas poucas iniciativas e coloque para funcionar. Aprenda com os erros e faça tudo de novo, melhorando sempre a cada nova iniciativa”, explica.
Transformação digital também não precisa começar com grandes investimentos. “É incrível a quantidade de empresas que não está no Google ou está com dados desatualizados nele. Os consumidores estão acostumados a buscar lojas perto de onde elas estão. Se o seu negócio não está no Google, você não aparece para esse público. O custo de mudar essa situação é zero”, exemplifica. Montar um catálogo em PDF com os produtos mais vendidos e enviar para os melhores clientes por WhatsApp também tem um custo muito baixo e pode gerar resultados imediatos. “O lojista precisa digitalizar seu negócio. Não precisa começar pelo perfeito: é importante começar com o que é possível fazer e então ir melhorando. Você pode fazer de tudo no digital, desde que teste, aprenda e corrija rápido o que não funcionou. Por isso, quanto antes começar, melhor”, completa.
Fonte: SBVC - 01/06/2020
Medidas de isolamento têm evitado avanço maior do nível de contágio, mas sinalizam reativação lenta - e mais dura - da atividade econômica. Principalmente para os pequenos negócios
As regras de flexibilização da quarentena por regiões do estado de São Paulo, anunciadas na última quarta-feira (27/05) pelo governador João Doria, trouxeram certo alento para algumas cidades e setores que podem retomar gradualmente suas atividades - como shoppings e escritórios comerciais, por exemplo.
Porém, após mais de 70 dias de isolamento social, a reativação da atividade econômica é cercada por incertezas. Principalmente para os pequenos negócios.
A análise de empresários participantes da reunião on-line do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada na última quinta-feira (28/05), sinaliza um consumo muito retraído quando as portas puderem ser abertas, e a quebradeira entre as MPEs deve se intensificar.
Alguns números mostram qual é a situação atual desse segmento de empresas. Pesquisa do Sebrae divulgada no início de abril apontava que 89% das micro e pequenas empresas tiveram redução média de 69,3% no faturamento em uma semana, com a adoção das medidas restritivas.
Outro levantamento, também realizado pelo Sebrae no mesmo período, mostrou que, financeiramente, Microempreendedores Individuais (MEIs) tinham só oito dias de caixa para saldar seus compromissos.
Com mais 860 mil vagas de emprego formal fechadas só em abril, conforme dados recém-divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o medo do desemprego já está fazendo com que o consumidor coloque o pé no freio para novas compras, dificultando ainda mais a retomada.
O varejo de shoppings é um dos exemplos mais característicos: hoje há 107 empreendimentos funcionando no país em locais onde houve flexibilização há pelo menos 20 dias, disse um especialista em varejo presente à reunião (historicamente, os integrantes deste comitê da ACSP pedem que seus nomes sejam preservados).
Nos já reabertos, apesar da ligeira melhora nas vendas de artigos pessoais, como bijuterias e roupas e também presentes, muitos consumidores, com medo de contaminação e com a renda menor, têm ido menos aos shoppings. Com isso, a queda no movimento já é de 70% em relação a igual período ano passado.
O que muitos estão enxergando na reabertura, segundo o especialista, é que várias lojas pequenas vão voltar às atividades praticamente com caixa zero, mas com a expectativa de gerar receitas para cobrir despesas.
"Se alguns empreendedores flexibilizaram o pagamento de alugueis na quarentena, por exemplo, na reabertura certamente eles voltarão a ser cobrados", alerta. "Muitas pequenas empresas vão reabrir e não vão durar dois meses, e pelo menos 20% vão ter que fechar pois não terão condições de se sustentar."
CENÁRIO DE INCERTEZAS
Apesar de estar aberto e ser considerado essencial, no varejo da construção, apenas as lojas 'organizadas', como os home centers, responsáveis por 60% do faturamento do setor, têm tido relativo sucesso 'nessa guerra', segundo um empresário da área presente à reunião.
Mas as pequenas, não: além da falta de crédito e de estoque, muitas se encontram em dificuldades financeiras - o que deve gerar muitos fechamentos nos próximos meses, principalmente na capital paulista.
"A não ser por algum atendimento quase caseiro, quem está fazendo obras ou reformas nesse momento? Mas como elas dependem exclusivamente da venda de material, e apesar de não terem vendas grandes, muitas lojas fora da capital têm sobrevivido, e acreditam aguentar pelo menos três, quatro meses nesse sistema."
A questão mais preocupante, no momento, é a forma como foram tomadas as medidas de isolamento social, que podem levar à possível regressão dos indicadores pós-reabertura. "O que foi feito 'apavorou' a população, e terá impacto negativo no varejo por um bom tempo", disse um empresário do setor presente à reunião.
Ele afirma que o problema, especificamente em São Paulo, são os 'dois Brasis' - com Morumbi e favelas, por exemplo. E citou dados das últimas semanas que mostram que o isolamento é inócuo em locais mais pobres.
"A curva de contágio subiu 34%, depois 60% e 66% nessas áreas, pois esses modelos sofisticados criados pela equipe do governo veem São Paulo como uma unidade. Mas não é bem assim", afirma. "E na hora que tudo reabrir, infelizmente pode haver repique das mortes por não termos isolado a verdadeira população de risco."
Ele também criticou a demora em implantar o isolamento, que começou bem depois do Carnaval, levando São Paulo ao mesmo cenário da Espanha. "Esperamos um mês para tomar medidas necessárias e, quando foram implantadas, o número de mortes aumentou", disse. "O que fizemos da economia ninguém conseguirá dimensionar: o receio é que essa reabertura parcial acabe sendo revertida, e a gente dê um passo atrás."
NA AGRICULTURA E NO E-COMMERCE, TUDO OK
Mas nem todos os setores têm sofrido os impactos negativos da pandemia. Com o melhor resultado para o mês desde 2013, o agronegócio brasileiro exportou US$ 10 bilhões no último mês de abril.
De acordo com um empresário do ramo presente à reunião de Conjuntura, a agricultura de alimentos caminha bem, apesar da queda de 20% no mercado interno. "Mas estão mantidas as grandes negociações com a China, e teremos algo em torno de 30% só nas exportações de carne bovina para o país este ano", disse.
Apesar do temor da covid-19, que fechou cerca de seis fábricas da JBS nos EUA, reduzindo em 21% o abate de bovinos no país, aqui no Brasil a indústria se adaptou aos protocolos sanitários, e a "situação está controlada."
Já a soja, em termos de volume, bateu todos os recordes, segundo o empresário, com o país asiático responsável por 73,4% das aquisições do grão no 1º quadrimestre, somando US$ 31,4 bilhões. A alta de 5,9% nas exportações aumentou a quantidade embarcada em 11,1%, causando "filas de navios" no porto de Santos.
"O cenário é muito positivo: a alta do dólar tem nos ajudado imensamente: nunca vendemos tanto no mercado futuro, e já comercializamos perto de 30% a 40% da safra de 2020 e 2021", afirmou.
Na outra ponta, o e-commerce também trouxe boas notícias: um especialista do setor presente à reunião disse que, em dez semanas, do final de fevereiro à primeira semana de maio, a alta no número de pedidos foi de 66% ante igual período de 2019. Já o faturamento cresceu 54%. Os dados são da Ebit/Nielsen.
Hoje, o setor se divide em dois cenários: o dos e-commerces com 'lojas próprias', que cresceram 42%, e marketplaces que vendem produtos de terceiros, como B2W, Magalu e Mercado Livre, com alta de 88%.
"O fechamento de lojas e shoppings acelerou as compras do e-commerce. Acompanho o setor há 20 anos e nunca vi crescimento tão expressivo. A não ser no início, quando as bases de comparação eram menores."
No período, cresceu também o faturamento das categorias como alimentos e bebidas (144%), saúde (135%), cama mesa e banho (109%) e brinquedos (105%), puxados pela necessidade de ficar em casa.
O especialista passou outras informações: só em abril, 10 milhões de pessoas compraram no e-commerce brasileiro. Na semana de 5 a 11 de maio, as vendas on-line tiveram o maior patamar de crescimento este ano, com alta de 15% sobre a semana anterior. "Nos 15 dias antes do Dia das Mães, o faturamento subiu 68%."
Para um e-commerce, que crescia, em média 15% a 18% por ano, o especialista foi perguntado se os "números estratosféricos" de crescimento do período de pandemia devem ser mantidos quando o varejo puder reabrir.
"Acredito que, considerando sua aceleração no primeiro semestre, que será superior a 50%, e a retração do bolo total do varejo este ano, o setor deve crescer em torno de 10% em 2020", concluiu.
Fonte: Diário do Comércio - 29/05/2020
Realizado de cinco a sete de maio, o levantamento ouviu 1.100 pessoas em todo o Brasil via questionário online. Um dos fatores apontados pelo estudo foi o efeito da pandemia na renda dos brasileiros — 40% dos respondentes tiveram queda nos seus rendimentos e 26% estão sem qualquer renda, durante o período. O abalo na economia doméstica deve gerar um impacto sem precedentes para a alimentação fora de casa, segundo a pesquisa.
Ao mesmo tempo, 97% dos entrevistados passaram a cozinhar em casa ou aumentaram a frequência com que faziam isso. A alternativa de pedir entregas de compras do supermercado se tornou uma realidade para 17% dos brasileiros, que experimentaram essa ferramenta durante o isolamento social. Quando perguntados sobre a comida que mais desejam consumir durante o período, a pizza foi a escolha de 73%; hambúrgueres (59%), sanduíches (46%) e massas (40%) aparecem na sequência.
O estudo também apontou uma ascensão das culinárias ligadas às indulgências como doces e bolos. O estudo analisou quais são os fatores mais importantes na hora de escolher um restaurante para fazer o pedido. Higiene e limpeza aparecem como os valores mais buscados, seguidos por preço justo, comida gostosa e serviço bem feito. Perguntados sobre o que os motivaria a comprar mais comida pronta, 44% dos entrevistados apontaram a possibilidade de parte do dinheiro ser doado para pessoas necessitadas e 34% citaram a opção de ganhar desconto quando o restaurante for reaberto.
Segundo a pesquisa, o futuro do delivery é otimista. Entre os entrevistados, 21% acreditam que vão gastar ainda mais com esse canal de compras no pós-pandemia. Apesar dos dados, o setor ainda tem desafios a serem superados. 51% dos respondentes afirmaram que já deixaram de comprar no delivery de um restaurante porque a embalagem veio com problemas, como falta de lacre, comida desarrumada, vazando etc.
Para a Galunion e a Qualibest, algumas medidas que podem ajudar as marcas a melhorar sua experiência no delivery são reforçar ações que ajudem a cortesia do entregador, investir em embalagens lacradas, higiênicas e que mantenham a temperatura da comida, além de cuidar para que o processo da entrega garanta a integridade do produto. Segundo a pesquisa, ao mesmo tempo em que 79% dos respondentes pretendem voltar a fazer refeições fora de casa, 69% não acreditam que os frequentadores irão respeitar os novos códigos de comportamento. 83% dos entrevistados frequentam restaurantes self service. No pós-pandemia, eles esperam dos estabelecimentos adaptações como luvas descartáveis e álcool em gel (39%), porções pré-porcionadas (20%) e também cogitam a possibilidade de um atendente auxiliar na composição do prato (26%).
Fonte: Meio&Mensagem - 26/05/2020
A perda de renda em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus tem feito consumidores brasileiros priorizarem o pagamento das despesas domésticas mais básicas, segundo revela pesquisa da Boa Vista.
Das cerca de 450 pessoas ouvidas pelo instituto, 43% dizem que preferem pagar primeiro contas relacionadas a consumos indispensáveis. Entre elas, as contas de luz (72%) e energia (63%) foram as mais citadas como prioridades, seguidas de TV a cabo e internet (42%) e contas de gás (40%). Em último, apenas 17% dos consumidores citaram as despesas com telefone fixo.
Em segundo lugar, a prioridade de 30% dos entrevistados são as contas por boleto, como as de aluguel domiciliar (33%), planos de saúde (33%), condomínio (25%), educação (19%) e impostos como IPVA e IPTU (ambos com 17% das citações).
Neste mesmo segmento de gastos, 15% dos consumidores citaram o seguro de automóveis e 7% disseram que o plano de previdência privada é a prioridade de pagamento.
Abaixo das duas primeiras categorias, o pagamento de cartão de crédito reuniu 13% das menções dos entrevistados. Menos priorizados pelos consumidores neste momento, financiamentos, empréstimos e crediários tiveram apenas 8%, 5% e 1% das citações, respectivamente.
A pesquisa feita pela Boa Vista colheu depoimentos de consumidores de todo o Brasil entre os dias 9 e 15 de abril. Segundo a instituição, o levantamento tem margem de erro de três pontos porcentuais, para mais ou para menos, e grau de confiança de 80%.
Fonte: InfoMoney - 25/05/2020
O período de maior mudança na rotina da sociedade moderna, no Brasil, já traz resultados. Se por um lado, as lojas físicas têm amargado resultados ruins e muitas já estão fechando de vez as portas, por outro a quarentena já impulsionou e proporcionou a abertura de dezenas de comércios eletrônicos.
De acordo com a coluna de Joana Cunha, na Folha, foram abertos cerca de 100 mil e-commerces entre o início de março e o final de abril. Os números são da ABComm (associação do setor de e-commerce).
Ainda segundo a colunista, antes da chegada do coronavírus, a média mensal de novos negócios virtuais ficava em torno de 10 mil novas lojas.
Segundo o Jornal Valor, nesse período, houve aumento de 37% no número de vendas online e os seis setores que mais cresceram foram:
- calçados (93,08%)
- bebidas (78,90%)
- supermercado (34,44%)
- artigos esportivos (25,75%)
- móveis e decoração (23,61%)
- moda (18,38%)
Os números são baseados em dados da ABComm e da Konduto.
Fonte: E-commerce Brasil - 22/05/2020
Com a quarentena devido ao novo coronavírus, as compras online se tornaram um hábito de consumo dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, 61% de mil entrevistados aumentaram a quantidade de compras feitas em e-commerce por causa do isolamento social.
Para quase metade destes compradores, o consumo nessa modalidade cresceu mais de 50%. Os itens comprados com mais frequência foram comidas e bebidas para consumo imediato. Essas iniciativas são aceleradas por aplicativos de delivery e a chegada de novos restaurantes e supermercados às vendas digitais.
A migração para o digital aconteceu em diversas categorias. 31% dos entrevistados adquiriu produtos de beleza e cosméticos; 26% comprou livros e 23%, roupas. A praticidade parece ser a regra na hora de comprar online: 70% prefere utilizar aplicativos das lojas nos smartphones. O segundo dispositivo mais adotado são os computadores, que permite a aquisição através dos sites.
Após a quarentena, 70% dos entrevistados pretende comprar mais em sites e aplicativos. Isso se deve a uma satisfação de 78% nas experiências neste período. “Está havendo uma mudança real de comportamento e empresas que conseguirem se relacionar bem com os clientes neste momento terão uma grande vantagem no pós-crise”, analisou Eduardo Terra, presidente da SBVC, com base no estudo.
A receita de compras digitais no Brasil e no mundo
Segundo a consultoria McKinsey, o Brasil é um dos países com maior aumento de receita em e-commerce devido ao novo coronavírus. Antes da pandemia, a porcentagem de receita desta modalidade nas empresas era de 42% e, com a mudança, tornou-se 62%. Um movimento semelhante também aconteceu na Itália. Confira:
Embora o crescimento varie de acordo com os países, todos os listados no gráfico acima (França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Brasil) experimentaram um salto em receita devido às compras online. Assim como a educação online, telemedicina e o home office, o e-commerce é uma tendência que chegou para ficar.
Fonte: Startse - 20/05/2020
Enquanto a crise econômica do novo coronavírus vai tomando forma e se consolidando, donos de pequenas empresas relatam dificuldades para conseguir manter seus negócios em funcionamento. Cerca de nove a cada 10 (86%) empreendedores que buscaram crédito durante o último mês tiveram o empréstimo negado ou ainda têm os pedidos em análise.
Os números fazem parte de pesquisa divulgada nessa terça-feira (19/05) pelo Sebrae e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento se refere ao período de 7 de abril a 5 de maio. Nesse período, 38% dos empresários entrevistados disseram que solicitaram crédito. Na última pesquisa, essa taxa era oito pontos percentuais menor: 30%.
O analista de serviços financeiros do Sebrae Adalberto Luiz destaca que a dificuldade para pequenas empresas conseguirem crédito sempre existiu, mas se agravou com o surto do novo vírus. “Essa dificuldade é notória há algum tempo. Neste momento, contudo, com a pandemia, não há dúvidas de que essa dificuldade de acesso piorou, decorrente, por exemplo, da falta de faturamento dessas empresas”, analisa. Pequenas e médias empresas tomaram apenas 21% do valor total dos novos empréstimos desde o começo da disseminação do novo coronavírus, segundo dados da Febraban. Adalberto destaca que a porcentagem elevada de negativas de crédito se deve ao fato de muitos empresários procurarem apenas as grandes instituições.
De acordo com a pesquisa do Sebrae, bancos públicos representam 63% das demandas de créditos, e bancos privados, 57%. As cooperativas de crédito, porém, apenas 10%. “Busque outras alternativas, não fique só nas grandes empresas”, diz Adalberto. Seguindo essa lógica, o consultor Artur Lopes, sócio da IWER Capital, empresa de gestão para recuperação e consolidação de negócios, traça um roteiro a ser seguido nessa busca. O ideal, segundo o especialista, é procurar créditos mais estruturados, como em bancos de fomento. É o caso, por exemplo, do BNDES e alguns regionais. “São instituições que têm o objetivo de alimentar a atividade econômica”, sintetiza.
Em seguida, já com a negativa de bancos como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (BB), está na hora de correr para as pequenas instituições. Como exemplo, existem as cooperativas de crédito, que são formadas por um grupo de pessoas para prestar serviços financeiros exclusivamente aos associados. Outra boa alternativa são as fintechs, que, inclusive, possuem custos operacionais muito menores comparados às instituições tradicionais. “Não havendo mais a possibilidade de ter crédito, existem os fundos de direitos creditórios (Fidcs).
São fundos que têm um caráter suplementar e podem fazer operação com uma rigidez menor”, explica Lopes. Professor de Inovação e Negócios Digitais do Ibmec-DF, Marcelo Minutti questiona, entretanto, se realmente buscar crédito é a melhor opção para o momento. Ele apresenta um outro movimento: o de olhar ao redor e identificar oportunidades que possam ser melhores para a empresa do que um empréstimo. “É preciso ter uma consciência de que a mudança é inevitável e criar novas linhas de receita. Chamo isso de darwinismo empresarial. Não é o mais forte que vai sobreviver, mas o que está conseguindo se adaptar”, diz. “É bem melhor do que pegar um crédito e pagar as contas por um ou dois meses”, afirma. “Pode ser que esteja só prolongando um sofrimento que vai acabar lá na frente”, conclui.
Fonte: Metropoles - 21/05/2020