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Quem gostaria de trabalhar somente três dias por semana, folgar às sextas-feiras, dividir as responsabilidades e demandas do serviço e ainda ter tempo para estudar, descansar ou ficar com a família?

A resposta “todo mundo” parece ser unânime e até mesmo utópica. Mas, na Unilever, isso já é uma realidade.

Foi tomando um chá da tarde durante a licença maternidade de Carolina Mazziero (que na época era parceira de negócios para food solutions e desenvolvimento organizacional), que ela e Liana Feracotta (BP de marketing e pesquisa e desenvolvimento), tiveram o estalo para a ideia que as faria dividir o mesmo cargo na multinacional.

A sugestão de adaptar o compartilhamento de cargo para a área de recursos humanos ganhou corpo e uma imagem. “Depois da nossa conversa tiramos uma foto e mandamos para a nossa superior, dando a ideia do compartilhamento. Foi quase uma brincadeira, mas ela se mostrou muito aberta para trazer isso à mesa”, conta Carolina. Para ela, esse papo saiu de um sonho e se tornou uma estratégia de RH. A prática está em fase de testes há pouco mais de 15 dias.

Esse conceito já é comum em outros países e, em inglês, a prática leva o nome de job sharing. No entanto, é mais fácil encontrar CEOs que compartilham a tarefa de liderar uma companhia — como é o caso do Chipotle, cadeia de restaurantes dos EUA, do mercado Whole Foods, da Salesforce e, também, do Deutsche Bank. Já a Samsung, por exemplo, tem três presidentes que dividem o bastão. A novidade na Unilever está na implementação experimental na área de recursos humanos. “É importante para nós, como funcionárias da área de gestão de pessoas, sermos as cobaias do projeto para depois alavancar isso para o negócio”, diz Carolina.

De business partners, ambas foram promovidas a diretoras de recursos humanos e passaram a dividir o mesmo cargo.

Enquanto Carolina trabalha às segundas, terças e quartas, Liana fica com as terças, quartas e quintas. A folga de sexta é garantida e os horários não são fixos. “Optamos por não estar na empresa de sexta porque a maioria das pessoas faz home office. Eu e Liana ficamos no escritório juntas de terças e quartas porque achamos melhor ter nesse primeiro momento dois dias de interface das duas no escritório para manter tudo mais claro para os funcionários”, diz Carolina.

Os pontos positivos para elas são bem parecidos: com a carga de trabalho reduzida em 40%, elas podem passar mais tempo com os filhos, fazer cursos novos e aumentar a qualidade de vida. “Tem um benefício pessoal muito grande em compartilhar um cargo. Consigo levar meus filhos para a escola, ler artigos, estudar, ouvir podcasts. Isso é muito importante para um profissional em um mundo ágil como o que estamos vivendo”, afirma Liana.

O compartilhamento também tem efeito positivo no engajamento dos funcionários. “A organização me tem em um nível de engajamento altíssimo. Quando estou aqui, estou de corpo e alma, completamente focada nos desafios que tenho”, diz.

Para as empresas, o job sharing também traz bons resultados que vão além da redução da planilha de gastos da empresa, uma vez que o salário do funcionário é menor com esse regime. “Ter benefícios como esse ajudam na retenção e na atração de talentos. É uma ferramenta de desenvolvimento pessoal na companhia. Para ter os melhores na empresa, precisamos conseguir atraí-los e a flexibilidade do trabalho é um ponto muito importante”, afirma Carolina.

Nenhuma das duas enxerga pontos negativos na mudança de rotina até o momento. As únicas dificuldades, para elas, são descobrir como manter a disciplina e se desconectar totalmente nos períodos de descanso e como se organizar de uma forma efetiva, rápida e, claro, compartilhada. “O mundo corporativo gira cinco dias por semana e nós estamos girando somente três. Não é fácil se desconectar do e-mail, do celular, ou até mentalmente. Esse é o principal desafio no momento”, explica Liana.

Para resolver o impasse da organização, Liana e Carolina se reúnem toda terça-feira às 8h da manhã para discutir as missões e as atividades semanais que ambas precisam desempenhar. Nos outros dois dias, o WhatsApp é um amigo fiel para compartilhar (além do cargo) novidades e problemas que o dia a dia corporativo trazem.

O job sharing (por ter sido implementado muito recentemente) ainda não tem previsão para chegar a outras áreas da Unilever.

E aí, você toparia dividir seu cargo?

 

Fonte: Exame.com - 22/04/2019

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