A Uber vem passando por uma crise de liderança desde o início do ano, quando vieram à tona denúncias de assédio sexual e de um aparente ambiente tóxico dentro da empresa. Em maio deste ano, após um vídeo do CEO da companhia, Travis Kalanick, discutindo de forma agressiva com um motorista do serviço, o próprio líder admitiu publicamente que precisava de ajuda como gestor da organização, avaliada em US$ 68 bilhões por investidores.
Uma investigação interna sobre a cultura da empresa resultou, nesta semana, na demissão de 20 funcionários, entre eles o diretor de negócios Emil Michael, conhecido como “braço direito” de Kalanick. Na terça-feira (13/6), a empresa anunciou que Kalanick vai se afastar da gestão da companhia indefinidamente. A investigação analisou queixas dos funcionários de situações de assédio, discriminação, bullying e outros comportamentos anti-profissionais.
Um estudo da Alliance Manchester Business School, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, apresentado em um evento da área de psicologia organizacional no início deste ano, pode ajudar a compreender de que forma esses comportamentos se propagam nas empresas — e sua relação com as chefias das organizações.
A pesquisadora Abigail Phillips analisou uma amostra internacional de 1.200 funcionários de empresas de diversos setores em busca dos efeitos de trabalhar com um chefe que apresente traços de comportamento psicopata — como impulsividade, pouco controle das próprias ações, e pretensão a manipular os outros — e narcisista, o que inclui sentimentos de grandeza e necessidade de ser admirado.
De acordo com Abigail, na medida em que esses traços de personalidade foram encontrados em gestores, maior era a prevalência de bullying no ambiente de trabalho, insatisfação com o emprego, estresse, depressão e de um comportamento improdutivo entre os subordinados.
Os resultados apontam ainda que, além dos efeitos no bem-estar das equipes, os funcionários também acabam desenvolvendo um comportamento tóxico. “Profissionais que se encontram nesse ambiente de trabalho são mais propensos a retaliar dirigindo sua frustração à organização, o que resulta em menos produtividade, ou a seus colegas, o que gera um aumento nos casos de bullying entre funcionários”, diz Abigail.
A pesquisa indica, segundo ela, uma necessidade de observar esse “lado negro” da personalidade na hora de selecionar profissionais para cargos de liderança, mas também que é possível que as companhias façam intervenções para diminuir esses comportamentos.
Fonte: Valor Econômico - 16/06/2017