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A torneira da pia da cozinha pinga sem parar, a luz da sala e do quarto permanecem acesas à toa, o banho de chuveiro demora uma eternidade, a válvula Hydra da descarga do sanitário vaza há muito tempo sem sofrer manutenção, a calçada é lavada no final de semana sem preocupação com o desperdício de água e sabendo que podemos simplesmente varrê-la! Por exemplo, se o uso de um chuveiro elétrico (cujo consumo representa cerca de 25% do consumo de energia elétrica de uma residência) fosse otimizado, obteríamos uma sensível redução nos gastos com a conta de luz.

Na empresa a cena se repete: as luzes permanecem acesas, o ar condicionado mantém a temperatura interna abaixo do que é realmente necessário, desperdiça-se tempo, insumos, matérias-primas e produtos acabados e outras coisas mais!

Os desperdícios estão incorporados ao dia-a-dia, a ponto de não sensibilizar mais as pessoas. A construção civil bate recordes de desperdício, com perda aproximada de um terço do material utilizado. Na agricultura, as perdas começam na colheita, acentuam-se no transporte e na armazenagem. Na indústria, no comércio, em qualquer lugar, desperdiça-se capital, trabalho e recursos naturais. Como termina tudo isto? O resultado são pessoas e empresas habituados a desperdiçar, comportando-se como se os recursos fossem infinitos.

Mudanças no dia-a-dia

A velocidade das mudanças é cada vez maior, como pode ser constatado no quadro a seguir, que demonstra o tempo entre o desenvolvimento de um produto e a sua aplicação comercial:

Antes da 1ª Guerra Mundial

30 anos

Entre as duas Guerras Mundiais

16 anos

Após a 2ª Guerra Mundial

9 anos

Década de 70

4 anos

Década de 80

1,5 anos

Década de 90

6 a 8 meses

Ano 2000

30 a 45 dias

 

Este enorme aumento na velocidade de processamento das informações e fabricação de produtos nos obriga a mudar radical e rapidamente os conceitos e também a postura. O exemplo disso é que muitos projetos tornam-se obsoletos antes mesmo de sair da prancheta (ou CAD). Com o advento da globalização, os concorrentes e parceiros não se limitam mais ao âmbito nacional, mas agem agora a nível mundial. É vital para a sobrevivência das empresas que se entenda esta nova fase e que a ação sobre a melhoria dos processos seja constante.

O combate ao desperdício

Desperdício é todo e qualquer recurso que se gasta na elaboração de um produto ou execução de um serviço, além do estritamente necessário (matéria-prima, tempo, recursos financeiros, energia elétrica, mão-de-obra etc).

É um custo extra acrescentado aos custos normais do produto/serviço, sem trazer qualquer tipo de melhoria ao cliente.

O desperdício pode se apresentar de várias formas:

- Produtos ou serviços esperando para ser executados - o cliente enfrenta uma longa espera porque a empresa não dispõe de atendimento ágil. Muitos clientes não se submetem a isso e procuram outro fornecedor;

- Transporte de produtos ou serviços entre máquinas e seções - significa perda de tempo que não agrega valor ao cliente e gera custos extras;

- Movimentos desnecessários do corpo e mãos - quando o processo de trabalho não é adequado, as pessoas trabalham mais do que o necessário, com menor produtividade;

- Problemas e definição de planejamento do produto - erros na concepção do produto e/ou nas diversas etapas de sua elaboração acarretam grandes desperdícios de material, tempo, hora/homem e hora/máquina, elevando os custos;

- Produção com defeitos - é o maior dos desperdícios, pois gera retrabalho, custo de recuperação ou mesmo a perda total do esforço e do material. O risco de perder clientes é muito elevado;

- Estoques além do necessário - para compensar erros e defeitos de produção, precisamos de maior estoque de matérias-primas.

Desperdício de matéria-prima

O uso de materiais com características superiores ou inferiores às necessárias e quantidades incorretas significa desperdício:

- característica superior ao material adequado pode significar maior investimento para o mesmo resultado;

- característica inferior ao material adequado pode não atender à necessidade e provocar perda total do produto ou exigir reparos;

- sobra ou excesso de material não garante a qualidade do produto e requer esforço extra para ser retirada;

- a escassez ou falta de material pode prejudicar a fabricação do produto ou execução do serviço e alterar as suas características ou estrutura;

Desperdício de mão-de-obra

- Subutilização reduz a produtividade e aumenta os custos;

- Super utilização, se ocorrer por tempo prolongado, provoca stress e favorece falhas e erros;

- A falta de qualificação da mão-de-obra exige treinamentos extras, acompanhamento e aumenta o risco;

- Excesso de qualificação pode significar mão-de-obra mais cara do que o necessário ou sub-aproveitamento das pessoas, gerando desestímulo.

Desperdício nos métodos de trabalho

- Excesso de sofisticação técnica gera custos de implantação e manutenção além dos necessários;

- A falta de sofisticação necessária pode não garantir a qualidade final do produto;

- Falta de etapas no processo provoca gargalos, ou seja, etapas sobrecarregadas que não acompanham o ritmo do processo, causando perda de tempo e recursos;

- Excesso de etapas no processo gera custos maiores do que os necessários e pode provocar atrasos nas entregas.

Desperdício com equipamentos

- Através do uso de equipamento obsoleto, a quantidade ou a qualidade obtida ficam abaixo da média de empresas semelhantes e isso reduz a competitividade;

- Com equipamento excessivamente avançado, o volume e a qualidade absorvidos pelo mercado não justificam a capacidade de produção do maquinário, aumentando os custos;

- Excesso de equipamentos aumenta a necessidade de espaço para os equipamentos que, se não são usados, podem sofrer degradação. Cresce o custo unitário.

Reciclagem

O reaproveitamento de insumos para a fabricação de produtos é uma opção racional em um mundo em que impera a política do descartável. Papel, plástico, metal e vidro podem e devem ser reaproveitados. Papel de revista, por exemplo, transforma-se em papel higiênico ou em guardanapo. Papelão é reutilizado na fabricação de caixas. Papéis brancos transformam-se em bobinas para fax. Copinhos plásticos podem ser transformados em embalagens de produtos não comestíveis. Vidro é empregado na fabricação de outras embalagens de vidro, assim como o alumínio, que pode ser aproveitado para gerar novas latas de cerveja, refrigerantes e conservas. Além da economia que geram, a coleta seletiva e a reciclagem de resíduos sólidos também contribuem para a melhoria do meio ambiente. Das 4,3 milhões de toneladas de papel que o Brasil consumia por ano (1992), apenas um terço desse volume era reciclado e 3 milhões de toneladas feitas a partir de celulose nova. Para obter esta celulose, corta-se 225 mil árvores por dia.

O reaproveitamento de uma tonelada de papel, por exemplo, pouparia uma área de 360 m2 de eucaliptos. O papel reciclado, além de ter qualidade comparável à do obtido com celulose nova, é feito através de um processo que reduz em 74% a poluição atmosférica e em 35% a da água. Com a reciclagem, também são reduzidos os preços dos produtos acondicionados em caixas, latas e vidros e aumenta-se a vida dos aterros sanitários, já que plásticos e materiais ferrosos não se degradam nem mesmo após muitos anos.

Métodos para eliminar o desperdício

O processo

Definir quais são os processos de uma empresa é o primeiro passo para conhecermos melhor o que estamos fazendo. O processo é um conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos e é constituído dos chamados “6 M”: matéria-prima, máquina, medida, meio ambiente, mão-de-obra e método. Estabelecer itens de controle de um processo é estabelecer índices numéricos sobre os efeitos de cada processo para medir a sua qualidade total. Os itens de controle permitem acompanhar o processo e estabelecer ações corretivas (gerenciar). O acompanhamento dos itens de controle deve ser visual (através de gráfico) e para cada item devemos estabelecer uma meta numérica (somente aquilo que é medido é gerenciado; o que não é medido está à deriva).

Fluxograma

O fluxograma é a forma mais completa de visualizar processos e tem como objetivo garantir a qualidade e aumentar a produtividade. Ele representa, através de símbolos, cada passo da rotina, indicando a seqüência das operações e a circulação de dados e documentos. Revela fatos despercebidos em outra forma de apresentação e tem como ponto de partida o levantamento da rotina em foco nos seguintes aspectos:

- identificação das entradas e de seus fornecedores;
- definições dos padrões de entrada;
- identificação das operações executadas no âmbito de cada setor ou pessoa envolvida;
- identificação das saídas e dos seus clientes;
- definição dos padrões de saída.

Padronização de processos

A manutenção e a previsibilidade dos resultados (Itens de controle) são obtidas pelo cumprimento dos padrões.

A elaboração de Procedimentos Operacionais Padrão (P.O.P), retratando a situação atual e o treinamento do pessoal de acordo com o procedimento permitem melhorar os resultados do processo. Devemos padronizar apenas aquilo que é necessário padronizar para garantir certo resultado final desejado - padronizar as “atividades críticas”. Atividades críticas são as atividades que tem que ser feitas para que a tarefa tenha bom resultado.

Um modo de melhorar o ambiente de trabalho e criar uma consciência contra o desperdício é a implantação do “5S” (metodologia japonesa que visa mudar o comportamento das pessoas), que traz resultados concretos e duradouros para a empresa.

Fonte: Matthias Rembet Reinold 
Especialista em gestão pela qualidade total (T.Q.C.)