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O problema da globalização é que o tempo está acelerando cada vez mais. A globalização sempre existiu, desde o Império Romano, mas o que acelerou não foi a globalização, e sim a rapidez das mudanças. O ano, que era de doze meses, é hoje na prática de somente quatro. Por isso todo mundo anda sem tempo para respirar. Graças ao telefone, celular, internet, e-mails, conseguimos decidir, analisar, coordenar e implementar tudo muito mais rápido.

Em 1973 levei seis meses para fazer a pesquisa bibliográfica inicial da minha tese de doutorado. Hoje eu faria a mesma pesquisa em doze horas, na internet. Na época, os livros que encomendei demoraram quatro meses para chegar do exterior. Hoje chegam em uma semana.

Os Estados Unidos, uma economia já madura, voltaram a crescer 7% ao ano, deixando muitos analistas perplexos. Não há nada verdadeiramente de inusitado. Os americanos continuam a crescer seus modestos 2,1% ao ano de sempre, só que implantam seus novos investimentos em somente quatro meses, e não mais em doze, como antigamente.

Nós, infelizmente, ainda levamos quatro anos para fazer o que deveríamos fazer em um. Nossas leis precisam de demoradas reformas constitucionais para mudar. Não é por coincidência que os maiores críticos da globalização são professores que continuam dando as mesmíssimas matérias nos mesmos doze meses de sempre. Reduzir um curso de quatro anos para três, cortando matérias desnecessárias, ensinar melhor e mais rápido sem encher as aulas com lengalenga, nem pensar. Os grandes opositores da globalização são os conservadores que, como sempre, preferem que o tempo pare, a seu favor.

No fim do ano que vem estaremos figurativamente em 2007, não em 2004. Só que ainda estamos discutindo as reformas de 2003. Ninguém leu corretamente Darwin, que nunca falou da sobrevivência do mais forte. O que ele mostra é a sobrevivência do mais ágil, aquele que se adapta às mudanças inevitáveis do mundo com maior rapidez. São os lerdos que são comidos pelos tigres. Normalmente as vítimas são animais fortes que se tornaram velhos e lentos. Na selva capitalista não sobrevive o mais forte, como todo mundo acredita, e sim o mais rápido, que enxerga e responde com dinamismo. Não são aqueles que têm os melhores genes que sobrevivem, apesar de a maioria dos livros dizerem justamente o contrário. São aqueles que se adaptam mais rapidamente, que mesmo com adaptações imperfeitas enfrentam o problema.

Temos centenas de partes do corpo que são meros quebra-galhos, e não as melhores adaptações possíveis. Se você tem constantes dores nas costas, lembre-se de que a coluna não foi feita para que ficássemos em pé, e sim para andarmos de quatro.

Uma das saídas dessa sinuca, no nível pessoal, não é necessariamente fazer mais em menos tempo, mas sim largar tarefas menos essenciais e se concentrar naquilo que realmente é importante. Isso significa largar funções que você continua a carregar por tradição, para manter poder ou por vaidade.

Sem querer generalizar, todo ser humano tende a procurar mais poder do que consegue administrar. Delegar tarefas, funções e trabalho é visto como derrota, uma perda de poder, fatal para qualquer político, executivo ou chefe de departamento.

Em vez de encarar a delegação como diminuição de status, encare-a como uma forma de se concentrar naquele nicho em que você realmente é mais competente, o que no fundo lhe trará muito mais poder. O segredo é fazer menos e melhor, algo que ainda não aprendemos. Eu também gostaria que o tempo andasse mais lentamente, ou que o Primeiro Mundo tirasse nove meses de férias em vez de continuar trabalhando como louco, tirando nossos empregos.

Por outro lado, essa aceleração do tempo significa que poderíamos estar resolvendo mais rapidamente inúmeros problemas brasileiros, em especial nossos problemas sociais.

O fato de que o tempo acelerou pode ser parte da solução, não somente parte do problema. Portanto mexa-se, e feliz 2007 para todos.

Fonte: Revista Veja - editora abril - edição 1833 - ano 36 - nº 50, por Stephen Kanitz – 17/12/2003

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