Empresas de tecnologia gostam de promover o potencial da inteligência artificial para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, como ajudar os médicos a diagnosticar doenças. Uma companhia fundada por três ex-funcionários da Google defende que a I.A. é a resposta a um problema mais comum: a insatisfação no trabalho.
A start-up, a Humu, baseia-se em alguns programas de análise de pessoas desenvolvidos pela gigante da internet, que estudou coisas como os traços que definem os grandes administradores e como promover um melhor trabalho em equipe.
A Humu quer levar conceitos semelhantes baseados em dados para outras companhias. Ela vasculha as pesquisas sobre os funcionários usando a inteligência artificial para identificar mudanças comportamentais que poderão ter mais influência no aumento da felicidade da força de trabalho. Então usa e-mails e mensagens de texto para persuadir cada funcionário a tomar pequenas atitudes que os levarão ao objetivo maior.
Na essência da iniciativa da Humu está o nudge engine (marca registrada da empresa), ou motor de pequeno empurrão. Ele se baseia na pesquisa do economista Richard Thaler, que recebeu por isso o Prêmio Nobel, sobre o fato de as pessoas frequentemente tomarem decisões por causa do que é mais fácil, e não do que é mais interessante para elas. Ele constatou que um impulsozinho na hora certa pode levar a escolhas melhores.
O Google usou esta estratégia para convencer os funcionários a economizar dinheiro para a aposentadoria, a desperdiçar menos comida na lanchonete e a optar por lanches mais saudáveis.
Usando o aprendizado da máquina, a Humu projeta para cada um o momento, o conteúdo e as técnicas das mensagens que ela distribui, com base na reação dos funcionários.
“Nós queremos ser pessoas melhores”, disse Laszlo Bock, diretor-executivo da Humu e ex-líder do Google na área que a companhia chama de operações com pessoas, ou seja, recursos humanos. “Queremos ser a pessoa que esperamos poder ser. Mas precisamos que nos lembrem disso. Um empurrãozinho pode ter um resultado muito mais eficiente quando dado de maneira correta”.
Nos mais de dez anos de Bock no Google, a força de trabalho da companhia cresceu mais de oito vezes. Ela teve problemas para administrar sua rápida expansão, e alguns funcionários acusaram a companhia de criar um local de trabalho hostil às mulheres.
Enquanto esteve na Google, Bock adotou várias iniciativas de cruzamento de dados em recursos humanos e se tornou muito conhecido no ramo. Ele abriu a Humu pouco depois de sair do Google, em 2017, com dois colegas: Jessie Wisdom, que tem um doutorado em pesquisa de decisões comportamentais, e Wayne Crosby, ex-diretor de engenharia da Google. A Humu levantou US$ 40 milhões e tem 15 clientes, companhias cujo tamanho varia de 150 a 65 mil funcionários.
Sanjiv Razdam, diretor de operações da Sweetgreen, uma cadeia de restaurantes self service e cliente da Humu, disse que se os empurrõezinhos não tivessem feito história na Google, ele provavelmente consideraria o conceito um monte de “bobagens e uma enganação sobre a tal felicidade”. Mas depois de receber empurrõezinhos de Crosby, Razdam admitiu que os lembretes facilitaram sua tomada de decisões. Por exemplo, a certa altura, ele sentiu a necessidade de perguntar aos integrantes da equipe sua opinião sobre as decisões que ele tinha de tomar.
O diretor executivo da Sweetgreen, Jonathan Neman, disse que a Humu apontou com precisão o problema que mais preocupa a empresa: a retenção dos funcionários. No início de setembro, Elena Jimenez, treinadora de uma loja da companhia em Mountain View, na Califórnia, recebeu um empurrãozinho. Hoje, a Sweetgreen só estimula os gerentes.
“Pense nas capacidades que um integrante de cada equipe precisa ter para ser bem-sucedido, tanto na sua função atual quanto no longo prazo, para sua carreira”, disse o e-mail. “Tome notas. Preparar a lista de capacidades ajudará a detectar as oportunidades para sua equipe à medida que elas forem aparecendo – então, vale a pena trabalhar tendo isso em mente, agora!”.
Fonte: Estadão - 30/01/2019