Mônica Flores, presidente do Manpowergoup para a América Latina
Provavelmente você já ouviu que para sobreviver na nova economia e no mundo em transformação pela tecnologia, as pessoas precisam aprender novas habilidades. Mas a imagem que veio à sua cabeça deve ter sido a de jovens na universidade, ou de recém-formados fazendo cursos online. Mas Mónica Flores, presidente do ManpowerGroup para América Latina, defende que essa visão tem que mudar. E rápido. “Quando se fala em habilidades, todo mundo pensa em jovens, mas isso não é só para os jovens. Os mais velhos também precisam aprender novas habilidades, precisam se acostumar com o mundo digital”, afirmou ela durante o Fórum Econômico Mundial para a América Latina. “Isso é um problema que pode afetar os governos, as empresas e a sociedade. Se não lidarmos com isso agora, teremos problemas à frente”, afirma.
No mesmo painel, Jennifer Artley, presidente do BT Group para as Américas, concordou. E lembrou que as dificuldades de relacionamento hoje no ambiente de trabalho são maiores do que nunca. “As pessoas estão demorando mais para se aposentar e entrando no mercado de trabalho cada vez mais jovens. Nunca tivemos tanta variedade de gerações nos escritórios como hoje”.
Ela disse que é preciso assegurar que estamos levando as pessoas junto com o avanço da tecnologia. “Não podemos falar em desenvolvimento tecnológico sem falar sobre as pessoas que trabalham hoje, e sobre o que elas vão fazer”, afirma. Nessa linha, ela defende que é preciso incentivar mais pessoas a entrar nas áreas de ciências duras, as chamadas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês). E não deixou de falar sobre a desigualdade entre homens e mulheres nessa área. “No Reino Unido, estamos investindo para treinar professores a estimular meninas a trabalhar com tecnologia”, conta. Jennifer afirmou também que já está sendo discutido a mudança da sigla STEM para STREAMD – incluindo robótica, arte e design. “Isso poderia abrir mais portas para as mulheres na área de tecnologia”, diz.
Para Mónica Flores, há também um preconceito na área tecnológica que muitas vezes limita o acesso delas ao mercado de trabalho. “As empresas dizem que querem encontrar os melhores talentos, não importa se sejam homens ou mulheres, mas quase nenhuma companhia tem uma estratégica específica para atrair mulheres”, afirma. “Precisamos de diversidade dentro das organizações, e ainda não temos isso”.
Também na discussão, Mauricio Cardenas, ministro das finanças da Colômbia, foi questionado sobre qual o papel do governo na busca pela solução desse problema. “Precisamos que as pessoas desenvolvam novas habilidades. Melhorar a educação básica não é suficiente para isso, precisamos melhorar o acesso à formação universitária ou técnica”, afirma. Segundo Cardenas, apenas 52% dos estudantes que concluem o ensino médio na Colômbia ingressam no ensino superior.
Quando alguém na plateia perguntou aos painelistas quais as habilidades necessárias no mundo atual, as respostas foram diferentes. Para Mónica Flores, é preciso ensinar soft skils, a habilidade de aprender continuamente – coisas que deveriam ser ensinadas na escola. Jennifer defendeu que no mundo de hoje a habilidade mais necessária – e que nunca poderá ser substituída pelos robô – é a capacidade de colaborar com outras pessoas e de trabalhar em equipe. Angel Melguizo, economista-chefe da unidade da América Latina da OCDE, afirmou que deveríamos estar ensinando “tarefas, e não empregos”. “Ninguém sabe quais serão os empregos do futuro, mas podemos adaptar as tarefas”, afirma.
Fonte: Época Negócios - 16/03/2018