O executivo João Lúcio Azevedo Filho diz que seu maior orgulho é ter participado do processo de crescimento da Cognizant Brasil, que preside desde 2012. “Quando entrei na empresa, éramos 30 funcionários e tínhamos um cliente. Era basicamente uma sala com 30 pessoas, não parecia uma multinacional, uma grande empresa de consultoria, e eu tive a oportunidade de fazer esta empresa chegar a 1.300 funcionários e a mais de 40 clientes ativos no Brasil. O esforço que isso demandou, não só meu, mas de todos os colaboradores, é um orgulho muito grande.”
A Cognizant, que entrou no Brasil em 2009, foi fundada nos Estados Unidos em 1994. Hoje, está presente em 40 países e tem 260 mil funcionários. Segundo o dirigente, o faturamento em 2017 deve ficar em torno de US$ 14,7 bilhões. “Nosso serviço é basicamente consultoria em negócios, consultoria em tecnologia, obviamente visando à transformação digital de nossos clientes”, conta Azevedo, que é formado em engenharia da computação pela Unicamp e tem MBAs pelo IBMEC e pela Kellogg School of Management (EUA).
Ele diz que sempre gostou de computação, e dos 12 aos 17 anos de idade deu aulas de computação em uma escola de informática. “E hoje, olhando para trás, eu vejo como isso me ajudou. Por desenvolver o raciocínio lógico e por dar aula, por falar em público.”
Outra atividade que o marcou, diz, foi o fato de ter trabalhando com vendas ainda durante a faculdade. “Essa experiência me trouxe um poder argumentativo, uma visão que eu não tinha antes. Isso me ajudou, de alguma forma, a moldar o que eu sou hoje.” A seguir trechos da entrevista.
O quer você considera como sua marca?
O que tento fazer para ser um diferencial meu, é não ser chefe, mas líder. O líder é diferente de um chefe. Este manda, cobra, mas não necessariamente está no mesmo barco. O líder manda, cobra, mas está no mesmo barco. Se algo for bem sucedido, ele é responsável, mas se não for, também é responsável. A forma de agir é diferente. Uma coisa que eu trago aqui para o dia a dia, é justamente essa mentalidade de estar todo mundo no mesmo barco. E o cliente também. Assim, se o projeto der certo, é para nós e para o cliente. Então, estamos todos juntos. E esse aspecto de liderança faz uma diferença muito grande no dia a dia. Move a pessoa em direção a um objetivo comum. Se você a convence, mostra para ela que faz sentido para a empresa, para a carreira, para o cliente, andar para esse objetivo comum, as pessoas vão por vontade própria e com mais garra e dedicação.
Cite o que você considera como um grande aprendizado em sua carreira
Consultoria é basicamente pessoas, não há uma linha de produção, uma fábrica. Um segundo grande aprendizado (além de ser líder e não chefe) que procuro praticar é no processo de contratação. Eu sempre me deparava com a dúvida: contrato a pessoa mais experiente, aquela que talvez seja mais capacitada para o cargo, ou aquela que tem atitude mais positiva, uma atitude melhor, mas nem sempre é a mais experiente. E pelo que eu aprendi, em meus 22 anos de carreira, é que eu prefiro contratar as pessoas que têm atitude e visão, não necessariamente a experiência correta. Tendo atitude e visão correta, ela aprende, se desenvolve, cria experiência. O contrário, nem sempre é válido.
Então, você compartilha da ideia de que habilidade comportamental é mais importante do que o conhecimento técnico?
Compartilho. Claro que a experiência técnica é importante, é um diferencial. A pessoa que tem só experiência, mas não está disposta a aprender coisas novas, não está disposta a andar o quilômetro extra, ela não se destaca tanto quanto aquele que é menos experiente, mais está com ‘fome’, está querendo ir atrás das coisas. E hoje, dentro dessa transformação digital, tudo muda muito rápido. Os serviços que a Cognizant fazia há cinco anos não são os mesmos de hoje. É muito pouco tempo. Talvez daqui a dois, três anos, mude de novo. Então, o perfil do profissional que precisamos é daquele que hoje está joga basquete, amanhã toca violino. É alguém que se adapta rápido. E nós, como empresa, também temos de nos adaptar muito rápido. Então, por isso, que a atitude às vezes é mais importante do que a experiência.
Que dicas você pode falar para quem está chegando ao mercado de trabalho?
A primeira coisa que falo para todo mundo é que um bom profissional tem de se comunicar bem e tem de trabalhar de forma estética. Deixa eu explicar. Muita gente sai da faculdade e vai para o mercado e não sabe escrever um bom relatório ou um bom e-mail. Quando o cliente recebe isso, causa uma impressão ruim. O que você escreve, a forma como escreve, como você faz o seu relatório, o design do seu trabalho, faz muita diferença. Aquilo que você escreve é um reflexo do seu ser. Então, comunique-se bem e faça as coisas bem feitas do ponto de vista da aparência.
Algo mais?
A segunda coisa que falo para todo mundo é: tenha mentalidade empreendedora. Não é porque você trabalha em uma multinacional que tem horário para entrar e para sair, que você tem de ser o funcionário tradicional. Se você quer diferenciar, seja o seu projeto, a sua área, seja o que for, então, trate como se fosse o seu próprio negócio. E o cliente como se fosse o seu próprio cliente. Quando você consegue colocar essa sementinha na cabeça, seu trabalho fica melhor.
O que define o sucesso de uma pessoa?
O sucesso de uma pessoa não é definido pelo que ela faz no horário de trabalho, mas sim pelo que faz fora do trabalho. Durante o expediente, todo mundo é igual, todo mundo faz reunião, atende bem o cliente. É o que se faz fora do trabalho é que vai definir quem ela será no futuro. O que estuda, o que assiste, o que lê. É como ela se prepara para no dia seguinte ser diferente.
O que foi feito para a empresa crescer na sua gestão?
Quando eu entrei na empresa, em 2012, ela não tinha essa cultura do empreendedorismo, e criar isso foi parte do desenvolvimento da empresa. Mas como criar isso? Por meio de treinamentos? Por meio de exemplo? O que eu implementei aqui foi justamente ensinar por meio do exemplo, você fazer para que as outras pessoas possam ver você fazendo, e possam segui-lo e fazer igual ou até melhor do que você faz. Hoje, temos um time de liderança, um grupo de colaboradores que tem uma mentalidade muito empreendedora, e consequentemente acaba tendo sucesso e a empresa está crescendo de uma forma bem consistente. É o que me dá mais orgulho.
Fonte: Estadão - 08/03/2018