Como será o futuro do trabalho com o uso de soluções que envolvem a Inteligência Artificial (IA)? Para responder a esse questionamento instigante, o primeiro passo é analisar o cenário econômico. A grande capacidade de processamento de dados, juntamente com o desenvolvimento de IAs, geram soluções automatizadas, que exercem impacto direto no trabalho.
Segundo pesquisa global da consultoria McKininsey, a pandemia acelerou ainda mais esse processo. Um levantamento realizado em junho de 2020 com 800 executivos seniores, apontou que dois terços deles estavam aumentando os investimentos em automação e IA. Enquanto isso, os números da produção de equipamentos de robótica na China superaram os níveis pré-pandemia, já em junho de 2020.
Para quem quer trabalhar com IA, a principal tendência diz respeito ao desenvolvimento de soluções. Nesse contexto, devem surgir muitas oportunidades para quem atua nas áreas de Computação, Engenharias, Matemática e Estatística. Profissionais que devem ser cada vez mais disputados e valorizados.
Também é importante mencionar o papel exercido pelos humanos, de treinar as IAs, analisar e explicar os algoritmos, além de interpretar as saídas e checar inconsistências e conformidades. Como por exemplo, sistemas de IA são utilizados em escritórios de advocacia para analisar tendências de juízes ao julgar temas específicos, possibilitando maior especificidade à defesa.
No livro "Humans + Machine: Reimagining Work in the Age of AI" (2018), os autores Paul Daughtert e H. James Wilson exploram a Teoria do Meio Campo Ausente, que se refere às atividades híbridas entre humanos e a máquina. Nesse caso, os profissionais de outras áreas, como do direito, saúde, jornalistas e professores, deverão se adaptar e atuar como treinadores das IA, para que a tecnologia dê suporte à tomada de decisão.
Outra vertente da Teoria aborda que, ao ser incorporada e integrada à rotina dos humanos, a IA pode proporcionar "superpoderes" a eles. Como executar tarefas autônomas e de baixo escalão, como limpeza de ambientes, priorização de recursos em linhas de montagem, identificação de padrões em tempo real e personalização de ofertas em um e-commerce. A tecnologia tem sido muito utilizada também na medicina. Os robôs estão cada vez mais presentes e atuantes em cirurgias, potencializando o sucesso e minimizando o risco de imprecisões.
Esse aspecto suscita também uma preocupação geral da população sobre a extinção de profissões. O relatório da McKninsey de junho de 2019 aponta que atividades com maior risco de substituição por IAs são trabalhadores de serviços (30%) e operadores de máquinas (40%). Nesse contexto, serviços como: caixa de supermercado, telemarketing, vendedor e porteiro são os mais vulneráveis, por serem ocupações de rotinas físicas e cognitivas que as IAs treinadas possam substituir.
Por isso, a tendência para os profissionais do futuro está relacionada com atividades que somente os humanos podem desempenhar, como liderar, criar, julgar e ter empatia. Sobretudo, as pessoas devem desenvolver habilidades técnicas em IA em cada profissão, para atuarem no meio campo ausente, juntamente com as máquinas. Compreender o funcionamento dos algoritmos, bem como capacidade analítica de dados será fundamental para cada profissional no futuro.
* Pesquisadora em Ciência de Dados e professora universitária
Fonte: Hoje em Dia - 27/07/2021