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A diferença entre a população mais e a menos qualificada no mercado de trabalho aumenta à medida que cresce o uso de inteligência artificial. A constatação vem de uma pesquisa inédita realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Microsoft. O estudo analisou as mudanças no mercado de trabalho e na economia com três cenários de aumento no uso de IA pelas companhias. Os cenários usam crescimento no uso de 5%, 10% e 26%.

Com o aumento de 26% na aplicação de IA, cenário com maior impacto, a ocupação da população diminuiria em 3,87%. O dado de impacto, porém, varia a depender da qualificação da mão de obra. Trabalhadores menos qualificados seriam mais impactados.

Nos três cenários pesquisados, a taxa de ocupação entre os trabalhadores mais qualificados cresce, podendo atingir um aumento de até 1,56%. Enquanto isso, os trabalhadores menos qualificados veriam diminui em 5,14% na taxa de ocupação.

Um impacto positivo para os dois grupos seria o de salários. Ambos veriam aumento na remuneração com o maior uso de IA por empresas. Mas, novamente, os dados variam para trabalhadores qualificados, que veriam aumento de 14,72% nos salários, e não qualificados, que veriam aumento de 7% na remuneração. “A desigualdade pode aumentar não só no mercado de trabalho, mas entre empresas, cidades, regiões e até países”, diz Fellipe Serigati, professor da FGV e responsável pelo estudo.

Para Anthony Salcito, vice-presidente mundial de educação da Microsoft, o investimento em educação é importante para diminuir as diferenças sociais e econômicas. “Se as pessoas valorizam a oferta de emprego e crescimento econômico, precisam investir na educação”, afirma. “Um está ligado ao outro.”

Nos outros dois cenários, com crescimento de 5% e 10% no uso de IA, as alterações no mercado de trabalho são pequenas. “A incorporação da IA terá impactos diferentes sobre jovens e adultos durante a carreira, mas ainda não conseguimos medir essas diferenças”, afirma Serigati, da FGV.

Diferenças por setores

O estudo avaliou a incorporação de IA ao longo de 15 anos em seis setores do Brasil: agricultura, pecuária, óleo e gás, mineração e extração, transporte, comunicação e comércio e setor público. A população ocupada total caiu em todos os setores. Tanto a população menos qualificada quanto a mais qualificada têm suas taxas de ocupação diminuindo com o crescimento da IA. O setor de óleo e gás tem a maior queda total na ocupação, com 22,85%.

A taxa de ocupação da população qualificada só aumenta nos setores público e de transporte, comunicação e comércio. Com um crescimento de 26% da IA, chegam a 2,72% e a 10,91%, respectivamente, de crescimento.

Segundo o estudo, esses resultados podem ser explicados pela baixa ocupação atual da população nos setores de commodities. Os setores de agricultura, pecuária, óleo e gás, e mineração e extração só representam 11% de toda a força de trabalho na economia brasileira, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE). Enquanto o setor de transporte e comércio, sozinho, responde por quase 35%.

Em todos os setores a remuneração aumenta com o maior uso de IA, mas também não segue a mesma linha que os dados gerais. Na agricultura, mineração e extração e setor público, a mão de obra qualificada tem um aumento na sua remuneração frente a menos qualificada. Mas nos setores restantes o resultado é o oposto.

O único setor em que a IA retrai o salário é no setor público entre a população menos qualificada. No cenário com aumento da aplicação de IA de 26%, a remuneração para este grupo cai 2,38%.

Crescimento da economia

No entanto, a IA impacta positivamente a economia a longo prazo. Segundo a pesquisa, o Produto Interno Bruto (PIB) tem um crescimento de 6,43%, se a aplicação de IA crescer em 26% ao longo de 15 anos.

O mesmo acontece com a produtividade. Todos os setores têm um crescimento, mas o que mais se beneficia é o de transporte, comunicação e comércio. No mesmo cenário do PIB, tem um aumento de 14,01%. “A IA incorporada na economia aumentará o acesso do consumidor aos produtos e serviços”, diz Serigati. “Ficarão mais baratos e com melhor qualidade.”

 

Fonte: Época Negócios - 20/05/2019