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A expressão “os dados são o novo petróleo”, atribuída ao matemático inglês Clive Humby e criador do programa de fidelidade da varejista britânica Tesco, tornou-se um chavão no mundo dos negócios. Em 2019, a máxima poderá finalmente ser vista em prática. Com mais produtos do que podemos consumir, a tecnologia tornou-se central para todas as indústrias, dos estabelecimentos de comida até corporações de construção e de saúde.

A análise é da empresa de estudos de investimentos e startups CB Insights, que elencou algumas inovações que mudarão o mundo das empresas neste ano. Em 2019, veremos o amadurecimento da geração de nativos digitais e uma adoção maior de tecnologias que antes só estavam nos planos. Por exemplo: a inteligência artificial criará mais possibilidades de personalização e marketing; aparelhos de controle de saúde irão chegar às residências comuns; e, nas ruas, dividiremos espaço com motoristas autônomos.

Veja, a seguir, 10 tecnologias que irão transformar as empresas (e a sua vida) em 2019:

1 — A hiper-personalização de tudo

Quanto mais dados as empresas possuem sobre seus clientes, melhores são suas estratégias para chegarem até eles. Para o CB Insights, 2019 será o ano da coleta de dados improváveis para a melhoria de serviços.

No final de 2018, o serviço de streaming de músicas Spotify se uniu à empresa de genética Ancestry para a criação de playlists baseadas no DNA de seus usuários. Outro tipo de personalização, mais pé no chão, é o reconhecimento por imagens. A gigante de beleza L’Oreal obteve uma patente para coletar dados de textura e cor de cabelos e faces de seus consumidores por meio de câmeras, criando produtos customizados. Enquanto isso, as gigantes Amazon e Apple obtiveram patentes para customizar serviços como travas para crianças e velocidade em carros autônomos, adaptando-os às preferências de cada consumidor.

2 — Residências e prédios inteligentes

Sensores estarão em prédios residenciais e comerciais, seja para garantir confortos ou para monitorar a saúde de seus residentes. No ano passado, a startup Ecobee, que recebeu 61 milhões de dólares em investimentos com participação da Amazon, lançou um sensor que ajusta temperatura de acordo com os ocupantes de determinado espaço. Em outra startup, chamada CrowdComfort, funcionários podem enviar fotos e localizações de problemas encontrados no espaço de trabalho, incluindo regulação da temperatura. A startup chama a tecnologia de “rede de sensores humanos.”

Esse controle deve ser estendido para residências, especialmente aquelas com idosos. A terceira idade fica cada vez mais próxima da tecnologia e, com isso, novas oportunidades de mercado surgem, diz a CB Insights. No lugar de focar em sistemas complicados, como a inserção de dados diários ou uma série de comandos para assistentes virtuais, em 2019 veremos ferramentas passivas de cuidado com a saúde de idosos, focadas na vigilância.

No ano passado, o Google patenteou sensores ópticos em banheiros para capturar funções cardiovasculares. Teoricamente, eles poderiam acompanhar mudanças no tom de pele e conferir se a circulação sanguínea da pessoa que está no recinto foi interrompida. Alguns meses depois, a Amazon adquiriu uma patente para sua assistente virtual, a Alexa, perceber tons de voz e tosses. Com isso, ela poderia sugerir a encomenda de um remédio e até transferir a informação a um responsável.

3 — Menos lojas e mais “momentos de compra”

Ainda que os centros de compras estejam passando por dificuldades nos Estados Unidos, o ato de comprar continua popular. Depois do avanço das compras online, veremos em 2019 a aquisição de produtos em momentos inusitados, como nos minutos gastos durante viagens de carro.

A startup Cargo instala caixas com produtos como carregadores e salgadinhos dentro de automóveis de companhias como Uber. Tal solução poderia ser expandida para qualquer momento de descanso em algum local, dos escritórios aos lounges de prédios residenciais.

4 — O delivery será dos robôs

Os carros autônomos ainda não emplacaram. Mas, segundo a CB Insights, veremos veículos com motoristas robôs primeiro no mundo das entregas de curta distância. É um projeto mais simples do que levar humanos ao longo de grandes trajetos e traz mais economia às empresas de delivery, que enfrentam custos de 30% sobre o valor do produto, com redução de funcionários e de gastos com combustível (já que tais carros são elétricos e levam uma carga menor do que a de uma pessoa).

Um exemplo é a Nuro, criada em 2016. A startup afirma que sua missão é “acelerar os benefícios da robótica para o dia a dia”. Seu primeiro passo é um veículo elétrico e sem motorista para entregas de curta distância com destino ao consumidor final. Hoje, a Nuro possui frotas em estados americanos como Arizona, Califórnia e Texas. O negócio recebeu um investimento de 940 milhões de dólares do fundo do conglomerado japonês SoftBank. Em dezembro do ano passado, a startup fez uma parceria com a varejista americana Kroger e trocou a frota de Toyota Prius autônomos da varejista pela de veículos autônomos próprios da Nuro, batizados de R1, no estado do Arizona.

5 — O sono será tecnológico

A tecnologia já domina quase todas as horas que você passa acordado. Em 2019, o alvo será suas horas de sono. Aparelhos inteligentes vestíveis (os wearables) tentarão decifrar seu descanso. É o caso do programa de acompanhamento do sono das pulseiras inteligentes FitBit, que mede níveis de oxigênio no sangue, ou da startup Dreem, que possui uma estranha faixa para ser usada durante o sono que mede atividades cerebrais e batimentos cardíacos, além de emitir ondas sonoras para melhorar a qualidade do sono e exercícios de meditação e respiração.

Vale lembrar que nenhum dos procedimentos recebeu ainda a aprovação da Food and Drug Administration (FDA), entidade americana de regulação em setores como alimentação e saúde. Esse é um dos obstáculos que negócios do ramo terão de eventualmente enfrentar.

6 — A China mudará as redes sociais

A startup mais valiosa do mundo atualmente é a chinesa Bytedance, com um valuation de 75 bilhões de dólares. Ela é a responsável pelo aplicativo de edição e compartilhamento de vídeos TikTok.

Segundo a CB Insights, a Bytedance estimou 500 milhões de usuários e o Facebook logo copiou a chinesa, lançando em novembro do ano passado umplicativo similar ao Tiktok, chamado Lasso. Os filtros de redes como Instagram e Snapchat foram inspirados nas cabines de fotos chinesas dos anos 2000 e de aplicativos como o Meitu, lançado em 2008. Por fim, adesivos vistos no serviço de mensagem WhatsApp desde outubro do ano passado são comuns em seus rivais asiáticos, como o japonês Line e o chinês WeChat, há tempos.

Com a ascensão de negócios inovadores chineses nos últimos anos, incluindo a entrada em países ocidentais, a empresa de estudos de investimentos e startups espera que o movimento de imitação das redes sociais do país deverá continuar neste ano.

7 — Os elétricos serão a nova gasolina

Pedir para consumidores finais trocarem a gasolina pela eletricidade ainda é um grande passo, seja pela custo dos carros elétricos ou pela falta de estações para carregar sua energia. Por isso, a primeira mudança para os veículos elétricos virá das grandes frotas, diz a CB Insights. As corporações possuem economias de escala que permitem fazer a mudança para os elétricos e, em termos sustentáveis, a diminuição de poluentes é maior quando se atacam caminhões e ônibus do que carros particulares.

Cerca de 95% dos ônibus escolares americanos ainda usam diesel e o combustível pode afetar a saúde das crianças transportadas. A fabricante Daimler foi uma das investidoras na startup Proterra para a criação de uma versão elétrica dos ônibus escolares. A mesma Proterra fez um piloto no ano passado com a autoridade metropolitana de transporte em Nova York, para lançar ônibus comuns elétricos.

Enquanto isso, a Volvo firmou uma parceria com a empresa Greenlots, que constrói software e infraestrutura de carregamento de energia para frotas elétricas, e a fabricante de cervejas Anheuser-Busch comprou 800 caminhões com combustível hidrogênio da fabricante Nikola Motor Company. O hidrogênio permite fazer distâncias mais longas do que a eletricidade, com menos custos de carregamento. Para 2019, ser verde pode ser não só um compromisso social, mas um bom negócio.

8 — Ser descolado nos games virou lucro

No ano passado, o jogo Fortnite, da empresa Epic Games, passou da marca de um bilhão em vendas. Sendo um jogo gratuito para download, sua forma de ganhar dinheiro é pela venda de produtos dentro do game, como roupas e equipamentos de luta para personagens. O sucesso dos itens extras atraíram marcas como a liga americana de futebol NFL, que lançou uma linha para o jogo.

Segundo a CB Insights, essa corrida por colecionáveis digitais continuará em 2019. O movimento atrai, inclusive, investidores. O CryptoKitties, negócio baseado na criptomoeda Ethereum que permite transacionar gatos digitais colecionáveis, captou 12 milhões de dólares de fundos de investimentos estrelados, como Andreessen Horowitz e Google Ventures. Um dos CryptoKitties foi vendido por 140 mil dólares em criptomoedas Ethereum.

Para os usuários, os colecionáveis abrem as portas para experiências imersivas e personalizadas em jogos anteriormente igualitários. Para companhias criadoras dos produtos, são uma forma de obter receita a partir do desejo por ser “descolado” até no mundo virtual.

9 — Sua nova clínica será sua casa

A falta de sistemas de saúde acessíveis para todos é um problema conhecido, especialista em zonas pobres e rurais. O primeiro passo já foi dado, com o avanço da telemedicina. Em 2019, porém, veremos outro modelo de distribuição de saúde: kits de saúde para tratamentos em casa.

A necessidade é urgente principalmente em cuidados que enfrentam preconceitos, como contraceptivos femininos. A startup Nurx vende e renova automaticamente o envio de pílulas anticoncepcionais em estados americanos como o Texas, com pouco acesso a serviços de ajuda com questões reprodutivas. A Miracare também atua na área, oferecendo um equipamento doméstico para analisar a urina e fornecer dados de fertilidade, registrados em um aplicativo. Serviços que antes eram custosos ou distantes estarão a um toque na tela do smartphone.

10 — Dados serão problemas geopolíticos

Se dados são mesmo o novo petróleo, neste ano veremos países os protegerem como se eles de fato fossem preciosos. A Alphabet, empresa-mãe do Google, tentou lançar um “bairro inteligente” na cidade de Toronto, mas foi rechaçada pelos residentes preocupados com o uso de seus dados. Com a resposta, a companhia começou a discutir como seria a “governança digital” de tais informações.

As discussões entre cidadãos, governos e empresas sobre como acessar, manipular e proteger dados dos usuários irão se intensificar.

Alguns países estão indo na direção de concentrar seu uso de dados, afirma a CB Insights. Na Índia, o primeiro-ministro Narenda Modi pediu que todas as instituições financeiras que operassem no país mantivessem informações de pagamento dentro da região — inclusive no caso de multinacionais, como Mastercard e Visa. O país também trabalha em uma lei para localizar dados de comércios eletrônicos e serviços em nuvem.

As medidas são vistas como uma forma de empresas indianas competirem contra as do exterior, especialmente as da China e dos Estados Unidos, pelos consumidores locais. Na própria China, a localização de dados já é corrente, com regulações que vão das fintechs às telecomunicações. Espere para ver mais reações contra quem está no controle dos dados em 2019.

 

Fonte: Exame.com - 19/02/2019