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Por Rúbia Evangelinellis, especial para o Portal Newtrade

Após quatro anos marcados de retração da economia e, consequentemente, do consumo, da renda, do emprego e demais indicadores, as expectativas de economistas é de virar o jogo em 2019. As apostas estão em medidas prometidas pela equipe do governo Bolsonaro, como de reformas trabalhista e da Previdência e ajuste fiscal, bem como o incentivo a investimentos privados na produção, geração de empregos e desburocratização.

Mas enquanto as medidas não tomam corpo e se concretizam em firmes ações de retomada da economia, a observação de especialistas é de que o consumo vai melhorar, mas sem euforia, e que o empresariado crê na chegada de bons ventos.
Amparado por levantamentos realizados por seu departamento de economia, a CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo prevê crescimento da economia de 2,6%em 2019 e alta de 5,5% no volume de vendas do varejo (acima dos 4,8% previstos em para 2018).

Outro indicador da CNC, de Intenção de Consumo das Famílias, subiu para 95,9 pontos em janeiro, correspondendo a um salto para cima de 5,1% com base no apurado em dezembro do ano passado. Trata-se da maior elevação mensal da série iniciada em janeiro de 2010. Já na comparação anual, o aumento foi de 14,7%.

Intenção – Fábio Bentes, economista-chefe da CNC, entende que as expectativas positivas começaram no final de 2018, por conta de uma agenda liberal proposta pela atual governo. “Alguns Indicadores apontam cenário positivo para esse ano, como de inflação baixa, parte provocada de por fraca demanda, queda do dólar e alta da bolsa”.

Pelo lado do empresariado, Bentes observa o otimismo presente no índice de confiança do empresário na medição do estoque do comércio, com apenas 24% dos empresários pesquisados reclamando do alto nível, sendo o menor patamar de queixas desde 2015. Também melhoraram as expectativas de contratação, sendo que três em cada quatro empresários do setor pretendem ampliar o quadro nos próximos meses, o maior índice desde 2012, quando começou a pesquisa. “Isso só se justifica se se a previsão de aceleração de vendas nos próximos meses” explica.

Outro dado aponta que 46% dos empresários pretendem investir nas lojas nos próximos meses, o maior índice desde 2015. “É uma recuperação que vai levar tempo. Mas em 2018, até novembro, o varejo abriu oito mil lojas, pela primeira vez desde 2014 abriu mais do que fechou, considerando o fechamento de mais de 220 mil lojas nos últimos anos”.

Herança de 2018 pesa

Embora as perspectivas sejam positivas, Claudio Czarnobai, líder de pesquisa para o canal tradicional de Vendas da Nielsen, explica que a retomada do consumo esperada em 2018 não se concretizou. “Ainda estamos com retração de consumo nas categoriais nos últimos dois anos”, diz. Até o terceiro trimestre de 2018, o recuo em volume era de 2,5%, considerando o desempenho de 140 categorias (alimentos, bebidas – alcoólicas e não alcoólicas, higiene e beleza, itens de limpeza, cigarros e bazar). A sua previsão é que ocorra sim a queda da taxa negativa, no acumulado de 2018, que ainda estava sendo contabilizada quando a entrevista foi realizada. “Acreditamos que 2019 será um ano mais positivo, de recuperação, mas ainda há uma imprevisibilidade do que pode acontecer neste período. O desemprego ainda é grande e a qualidade do emprego e da renda final, que são fundamentais, precisam melhorar”.

Cenário favorece

Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, acredita que a retomada gradual do consumo deve ser experimentada ao longo de 2019 em um ambiente de economia favorável, com PIB crescendo 2,8% e desemprego atingindo 11,5% (média de período). E ainda inflação em torno de 4% ao ano, expansão mais forte esperada para o crédito, queda das taxas de juros reais, com a Selic mantida em 6,5%, num ambiente de inadimplência recorde de baixa.

Conforme o consumo se expande, acrescenta, a atividade econômica volta a apresentar um melhor desempenho e a colaborar para a expansão da população ocupada, considerada outro importante pilar para a retomada do consumo.

A economista observa que já possível ver uma reação do setor de serviços, que deve ser importante ao longo de 2019, até por seu peso tanto no PIB como na geração de empregos. O comércio varejista, avalia, pode se beneficiar por uma inflação de alimentos mais baixa, bem como o setor de combustíveis e lubrificantes. “Segmentos tipicamente mais dependentes de crédito também devem ter um bom desempenho, especialmente num ambiente de câmbio estável. Incluem-se, aí, desde veículos a móveis e eletrodomésticos”.

Renda do trabalhador

Nuno Fouto, professor da FEA – Faculdade de Economia e Administração da USP e coordenador de Pesquisas do Provar, toca num ponto crucial para o incremento do consumo: a necessidade de recuperar consistentemente a renda do trabalhador, que corresponde a 60% da capacidade de consumo das famílias e está atrelada ao aumento de empregos e de investimentos. Ele destaca, porém, que a mudança da política econômica, que tende a tirar um pouco o Estado como o grande investidor e abrir espaço para a inciativa privada, deve levar um tempo maior para atrair investidores, especialmente os externos, que ainda observam a atuação do governo.
“Acredito que concretizadas as mudanças esperadas no Governo pelos investidores, virá o investimento interno e depois externo. E que a partir do segundo semestre poderá já ser sentida a melhora com forte reversão no próximo ano. São condições positivas, mas de lenta retomada, o que é saudável e realista. Ajuda o fato de a inflação estar controlada e o fato de as taxas de juros e a inadimplência se mantiverem em queda”, estima.

Na sua opinião, para as empresas da cadeia de consumo, prevalece oferecer condições de compras favoráveis, na comparação qualidade e preço. “É importante trabalhar toda a cadeia de valor, para oferecer produtos com qualidade adequada com preço alinhado”

Consumo com dois pesos

Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, observa que atualmente é nítido o otimismo geral, porém em diferentes graus. “O consumidor hoje acredita mais no crescimento do Brasil e da sua capacidade de compra, porém mais moderadamente do que os empresários, que hoje apostam firme na retomada, enquanto no ano passado pensavam em o que poderiam cortar”.

Isso significa que o impacto do humor e da economia encontra-se atualmente mais atrelado a oferta do que a demanda, ou seja, com investimentos “mais agressivos” em propaganda, parques fabris e desenvolvimento de novos produtos. “O reflexo no varejo é de comprar mais inovações da indústria, arriscar em estoque, confiando em juros mais baixos, enquanto o consumidor espera um pouco para ver o que deve acontecer”, resume.

Na prática, o brasileiro, frente às gôndolas, ainda fará a escolha aberto a experimentar marcas, comparando preços, mas topando “arriscar” mais do que no ano passado, aumentar o tíquete de compras, mas até um certo tempo, esperando que medidas sejam tomadas para consolidar a retomada. “Mesmo que a economia volte a crescer com grande velocidade, não teremos mais o consumo de ostentação. O consumidor está maduro, compara preços e não vai voltar automaticamente às marcas líderes, que terão de se apresentarem inovadas”, acrescenta.

Crédito, juros baixos e PMEs

Entre as sinalizações positivas do governo Bolsonaro, Paulo Dutra, coordenador do curso de Economia da FAAP – Faculdade Armando Alvares Penteado, considera importante para estimular a melhoria do ambiente dos negócios, especialmente das pequenas e médias empresas, e de investimentos. “A redução de juros possibilita a tomada de empréstimos a longo prazo para a produção. E o Joaquim Levy, à frente do BNDES, moraliza o banco de fomento e abre espaço para as pequenas e médias empresa, que são grandes empregadores, uma vez que as grandes têm acesso a outras fontes de financiamento”, assegura. A abertura de linha de crédito também estimula o crescimento sustentável e a chance de quem está na informalidade oficializar a empresa.
Olhando apenas para o ambiente interno, Dutra acredita que será possível observar crescimento num prazo rápido de tempo, de três meses, desde que a demanda mantenha-se sob controle. “Considero importante também buscar novos parceiros comerciais na pauta de exportação de produtos de maior valor agregado (como automobilístico e de aviação), que são capazes de gerar maior quantidade de empregos no Brasil.”

 

Fonte: Portal Newtrade - 11/02/2019