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boca fechada cervesia

Ninguém duvida que chefes que tecem elogios ao trabalho dos seus liderados têm uma intenção benigna: além de reconhecer seu esforço e competência, eles também querem incentivar seus funcionários a perseguir o sucesso outras vezes no futuro.

O que muitos líderes ignoram, porém, é que enaltecer o desempenho de um profissional pode ter um efeito surpreendentemente devastador sobre sua motivação e autoestima. “Quando feito do jeito certo, o elogio condiciona o cérebro a um desempenho mais alto, o que significa que, quanto mais elogiamos, mais sucesso criamos”, diz Shawn Achor, pesquisador de psicologia positiva e autor do livro “Big Potential” (Currency, 2018), em artigo recentemente publicado no blog do TED.

Porém, mesmo quando bem-intencionado, há um tipo de comentário positivo que pode prejudicar a sua carreira: aquele que estabelece uma hierarquia radical entre a qualidade do seu trabalho e o do “resto”. O problema está na ansiedade criada pela comparação. “O pior elogio que já recebi depois de uma palestra foi ‘Você foi o melhor apresentador de hoje’ (…) porque haverá outros dias em que eu não serei o melhor, então agora vou ficar nervoso e preocupado”, escreve Achor. “Em vez de me incentivar, esse comentário me deixa desequilibrado para o futuro”.

No limite, essa mentalidade pode culminar em medo excessivo de falhar e desmotivação. “Quando você diz a um grupo de pessoas que só uma certa porcentagem delas pode ser bem-sucedida, você está destruindo a ambição e a energia de todo mundo”, diz o autor.

O segredo? Elimine as comparações

O elogio baseado em comparações transforma a busca por crescimento profissional em mera disputa pela preferência do chefe. “Se você só se esforça para ser considerado melhor que o seu colega, [a ideia que fica é que], assim que você for um pouquinho melhor do que ele, pode parar de se esforçar”, explica Achor.

O mundo corporativo está cheio de mecanismos de reconhecimento pouco saudáveis, a começar por avaliações de desempenho que atribuem notas a cada membro da equipe.

Quando um empregador dá 10 para um determinado profissional, não aciona um mecanismo de competição saudável no íntimo de quem tirou 7 ou 5; em geral, o resultado será apenas inveja e ressentimento. O que fazer então? Segundo Achor, líderes precisam abandonar a ideia de que só feedbacks negativos precisam ser bem planejados para não causar estragos. A linguagem empregada em um elogio também faz uma enorme diferença.

A principal mudança deve ser eliminar os superlativos — palavras como “o melhor”, “o mais rápido”, “o mais original” ou “o mais talentoso”. Em vez disso, vale investir em uma linguagem mais complexa, com nuances, que descreva de forma neutra por que o trabalho daquela pessoa foi tão bom. Se for possível mostrar resultados concretos daquele esforço, sugere Achor, melhor ainda.

Fonte: Exame.com - 06/03/2018