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carl amorim blockchain cervesia

Os executivos não têm mais a desculpa de não atuarem no setor de tecnologia de suas empresas para não entenderem os conceitos e oportunidades criadas pelo blockchain. “Essa é a tecnologia que vai permear todas as próximas inovações, é por onde o valor vai ser transmitido pela internet”, defende Carl Amorim, executivo do Blockchain Research Institute (BRI) no Brasil. O instituto, de origem canadense, tem como objetivo desenvolver conhecimento, tecnologia e negócios em torno do blockchain.

A tecnologia, em que vários dados e informações são encadeadas e verificadas por uma rede distribuída, vai afetar as empresas como um todo, desde a estratégia, marketing, tecnologia, recursos humanos, supply chain até o jurídico. “O executivo estratégico (CEO) tem que ver isso como um todo, não dá mais para passar tudo para o CTO (diretor de tecnologia)”, diz Amorim. Segundo os estudos do BRI, o blockchain vai afetar a indústria, varejo, manufatura, tecnologia, saúde, mídia, governo e energia, além dos serviços financeiros. Este último foi o primeiro setor a ser afetado de forma importante pelo blockchain e pelos ativos digitais.

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Carl Amorim

Aplicações

Amorim deu alguns exemplos de como o blockchain pode ser utilizados pelas empresas. O primeiro deles veio a partir de uma experiência pessoal, na tradução e revisão do livro “Blockchain Revolution”, escrito por Don Tapscott. “Não queríamos realizar esse trabalho a partir do modelo tradicional. Como é um livro sobre blockchain, a ideia era usar a mesma lógica, ou seja, fazer o trabalho de forma descentralizada”, conta Amorim.

Foi feita uma chamada pública a quem quisesse colaborar com a tradução e revisão. Com isso, mais de 50 pessoas têm seus nomes no livro. Um sistema contabilizava quantas palavras cada um traduzia ou revisava. Para recompensá-las pelo trabalho, foram distribuídos criptoativos – que se chamam prospera – baseado no sistema da criptomoeda ethereum. Este processo foi, segundo Amorim, o primeiro ICO (inicial coin offer) do Brasil. A receita obtida com a venda do livro, convertida em ethereum, foi distribuída entre quem tem esse criptoativo, que pode ser vendidos no mercado, em troca de outras criptomoedas, como bitcoin. O sistema deu tão certo que dois novos livros estão sendo traduzidos dessa forma.

Outra forma de as empresas usarem a tecnologia do blockchain para melhorar suas operações foi um sistema criado pelo Walmart para lidar com segurança alimentar. Com a cadeia de informações, a rede consegue rastrear os fornecedores e saber para quais lojas foram determinado o lote de um produto.“Se duas pessoas passam mal depois de consumir o mesmo produto, o Walmart consegue identificar qual foi o fornecedor produto e consegue retirar esse produto das prateleiras de todas as lojas até o fim do dia”.

 Atualmente, o BRI está trabalhando na criação de uma cadeia de suprimentos para consumo responsável, garantindo processo de produção sustentável. Usando um código no rótulo ou etiqueta do produto, o consumidor conseguiria rastrear todo o processo de produção e saber, por exemplo, que as matérias primas foram cultivadas em uma propriedade que não usa mão-de-obra infantil. Outros projetos no mundo que usam o blockchain citados por Amorim são o registro de diamantes, ou de uma empresa que utilizou a tecnologia para agilizar o processo de transporte de produtos entre Hong Kong e Roterdam. “Era um processo longo e burocrático, que leva em torno de dez dias, mas com o blockchain, demora segundos ou minutos”, diz.

O BRI tem como membros empresas como IBM, Accenture, SAP, Deloitte, FedEx, Pepsico, além de governos e agências governamentais. No Brasil, os membros incluem IBM, Governo do Estado de São Paulo e Instituto C&A.

Regulação

O fato do blockchain poder ter várias aplicações também implica um problema de regulação que envolve bancos, agências e instituições. “Um criptoativo muitas vezes pode ser moeda, ativo e produto ao mesmo tempo. Podemos ter um criptoativo que equivale a um quilowatt ou a uma cabeça de gado”, diz Amorim. “Se você possui papel de moeda, quem regula tem que ser o BC [Banco Central], se é ativo, é a CVM [Comissão de Valores Imobiliários], e se é produto, no caso do quilowatt, seria a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Mas hoje, a CVM diz que não é ativo mobiliário, o BC diz que não é moeda e a Aneel nem sabe o que é”, diz Amorim. A questão tem gerado polêmica. Recentemente, a CVM proibiu fundos de investir em criptomoedas, alegando “indefinição e riscos”.

Bolsa de moedas digitais

Uma iniciativa para aplicação do blockchain para empresas no Brasil comemorou uma vitória recentemente. A Bomesp (Bolsa de Moedas Digitais Empresariais de São Paulo) criou um criptoativo chamado Niobium, e recebeu há algumas semanas o entendimento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de que não se tratava de um valor mobiliário, afastando a competência da instituição para regulamentar o ativo.

A ideia por trás da Bomesp, criada por brasileiros e austríacos, é que uma empresa poderia emitir criptoativos e vendê-los no mercado. “Por exemplo, uma grande rede de supermercados emite 10 milhões de criptoativos, a R$ 1 cada. A empresa se compromete a recomprar parte desses ativos a cada ano nos próximos cinco anos, pagando uma rentabilidade de 10% ao ano. E o cliente também poderia usar essa moeda para fazer suas compras nessa rede de supermercado”, diz Fernando Barrueco, diretor jurídico da Bomesp. As criptomoedas emitidas poderiam ser compradas e vendidas nessa bolsa, trocadas por criptomoedas de outras empresas, ou por bitcoin, ethereum ou ripple, por exemplo.

Fonte: Época Negócios - 26/01/2018

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