Pela primeira vez desde 2015, o consumidor brasileiro conseguiu adquirir novas categorias de produtos além do básico, segundo dados apresentados pela Nielsen. Esse incremento de seguimentos dentro das categorias se deve graças ao crescimento do número de pessoas que busca na informalidade uma alternativa de renda.
De acordo com Patrícia Coelho Almeida, especialista em entendimento do Consumidor da Nielsen Brasil, essa busca por novos ganhos seve para que eles representem tanto a fonte principal de rendimentos, quanto uma complementação.
As informações foram dadas tento como base a divulgação da pesquisa sobre o Consumidor 360, que perguntou questões relacionadas à crise, mercado de trabalho e bolso do consumidor. A ideia foi tentar descobrir qual potencial de gasto do brasileiro.
“Neste ano, a gente identificou uma tendência diferente. Desde 2014 e 2015, a gente falava de um consumidor que estava dando vários passos para traz, para conter despesas e sobreviver à crise. Neste ano, existe um movimento novo. A gente conseguiu perceber novos hábitos de consumo e a volta de hábitos. Porém, uma volta com gastos que não são tão básicos assim”, explicou Patrícia.
Melhoria atrasada
O brasileiro começou o ano de 2019 com a expectativa de que a economia iria acelerar. Porém, essa melhora se mostrou muito tímida. De acordo com Patrícia, o estudo revelou as consequências do retardo dessa melhora econômica no país, como mostra o gráfico abaixo.
O principal resultado tem sido o aumento da desigualdade entre os grupos. Os grupos representados pelas cores verde e amarela transitaram entre melhoras e pioras econômicas.
E o que se mostra na pesquisa é que parte do grupo amarelo, que já estava em crise, mergulhou ainda mais na situação econômica ruim. Ou seja, o grupo vermelho aumentou de 24% para 34%.
Já o grupo verde, que tinha saído da crise, teve uma ascensão ainda maior. Ou seja, o grupo azul subiu de 26% para 31%.
Informalidade
O que chama a atenção neste ano, segundo a Nielsen, é o pico da informalidade, com um patamar recorde ainda no segundo trimestre. “O problema de ter um número tão grande de pessoas informais no mercado é que esse grupo (que estava desempregado, em sua maioria) volta para o mercado de trabalho com poder de compra menor”, alertou Patrícia.
Preocupações
De acordo com os dados da Nielsen, as três principais preocupações dos brasileiros ao longo dos anos revelam o cenário do país. Até 2014, a principal preocupação era com o setor de saúde. De 2015 até agora, a preocupação tem sido com a economia.
Em 2016, 2017 e 2018, a Estabilidade Política passou a ser citada pelos brasileiros na pesquisa. Este ano, com a percepção de uma economia mais estável, e um menor poder de compra, o brasileiro passou a se sentir mais sobrecarregado e a Saúde voltou a ganhar destaque. E um novo quesito apareceu entre os top 3, o Aumento das Contas do Lar.
Brasileiro mais endividado
Os gastos primários, aqueles fundamentais para o cidadão (aluguel, saúde, educação, por exemplo) aumentaram em comparação com 2018.
“Temos um brasileiro que está mais endividado, com contas que não temos como escapar. Ou seja, o brasileiro está com poucas flexibilidade no bolso. E a renda informal passou a ser única alternativa para 16 milhões de lares“, comenta Patrícia.
O estudo da Nielsen revelou, no entanto, que, com a sensação de estabilidade econômica, o Brasileiro aos poucos, de maneira bem lenta, está retomando os hábitos de consumo. E alguns têm experimentado novos segmentos de produtos dentro daquelas categorias que já tinham conhecimento.
O preço dos produtos continua sendo o principal item para determinar uma compra. Porém, os consumidores estão experimentando novidades. E se aquele produto que estavam acostumados a comprar encareceu, o brasileiro não faz cerimônia para mudar a marca de um produto.
Vale lembrar, segundo a Nielsen, que experimentar novidades, não significa escolher apenas pelo preço. O consumidor está escolhendo outros produtos que fazem sentido e que valham a pena desembolsar um valor maior, se for o caso.
Patrícia comentou o incremento de novos produtos, seguimentos e categorias. “não é uma retomada de consumo, mas é uma racionalização, para gastar com coisas que façam mais sentido para o consumidor”, explicou.
Fonte: New Trade – 09/12/2019