Pode parecer contraintuitivo, mas para entender a mente dos golpistas é preciso estudar a confiança. Quem diz isso é a russa radicada nos Estados Unidos Maria Konnikova, dona de um currículo invejável e uma das principais atrações do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça.
Konnikova é formada em psicologia pela Universidade de Harvard, PhD pela Universidade de Columbia, especialista em golpistas e, para surpresa de muitos, jogadora profissional de pôquer. Ou seja, de blefe ela entende. Durante sua apresentação no evento, a especialista falou sobre a importância da confiança no mundo e deu dicas para empresários não caírem em roubadas.
Famosos nos Estados Unidos como “Con Artists”, golpistas podem ser encontrados no mundo dos jogos e até em mercados mais tradicionais, como o meio executivo. Para Maria, entretanto, golpistas têm ido cada vez mais longe. Na visão da especialista, políticos populistas usam e abusam das técnicas dessas pessoas. Maria chega, inclusive, a apresentar fotos de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, durante sua apresentação.
Para se esquivar desse tipo de situação, a jogadora de pôquer e pesquisadora busca apoio na ciência. Estudos mostram que sociedades com níveis de confiança mais altos tendem a ser melhores, em termos financeiros e de qualidade de vida. Segundo Maria, pessoas confiáveis são mais felizes, saudáveis, abertos a riscos e com tendência empreendedora.
“A ciência mostra que todos nascemos confiáveis. É com o tempo as pessoas aprendem a ser desonestas”, diz. Nos últimos tempos, a situação tem ficado ainda mais instável. “Vivemos tempos estranhos: há desprezo pelos fatos, as mídias não têm força, especialistas perderam valor, fake news… Como mudar isso?”, diz Maria.
Não é simples, garante. Mas algumas técnicas podem ajudar a reconhecer os “golpistas do dia a dia”. Assim como no pôquer, um dos segredos é manter o balanço entre confiar e desconfiar das pessoas. “Quem entra numa mesa de pôquer sabe que não vai ganhar nada se confiar em todos os jogadores ou somente desconfiar de todos que lá estão. O ideal é mesclar”, afirma.
Atitudes simples como olhar internamente para as suas ações podem fazer toda a diferença na hora de fugir das roubadas. Abaixo, confira algumas dicas da pesquisadora:
Pense como um jornalista
Confie, mas confira. Essa é uma das principais dicas de Maria para empresários. “Não estou dizendo que você precisa investigar tudo, sobre todas as pessoas. Mas é importante fazer perguntas”, diz. Desconfiar é a melhor maneira de chegar à verdade. “Acredite: nada é tão bom. Quando as coisas são boas demais para ser verdade, é bem possível que não sejam.”
Teste do vizinho
Dos estudos com golpistas feitos por Maria, ela chegou a uma técnica chamada “teste do vizinho”. O conceito consiste basicamente em questionar os fatos por outro ponto de vista.
Ou seja, quando se deparar com uma oferta aparentemente boa, vale fazer a reflexão: será que você deixaria seu vizinho confiar cegamente naquilo? “Como as pessoas pensam que são acima da média, é comum achar que elas nunca cairiam num golpe. Ninguém faz essa autocrítica”, diz.
Autoconhecimento
“Quantos de vocês já sentaram e se perguntaram no que acreditam, se são felizes, em quem confiam?”, afirma Maria. Para a pesquisadora, golpistas fazem essas perguntas – e a partir das respostas, conseguem preencher buracos que quase ninguém imaginava ter. “Descubra os seus gatilhos emotivos para que ninguém se aproveite deles.”
Ideais
Golpistas não vendem o mundo como ele é, mas, sim, da forma como as pessoas querem vê-lo. Por isso, é importante tomar cuidado com situações que pareçam ideais demais. “Sabe aquilo que parece feito sob medida para os seus desejos? Desconfie.”
Fonte: Época Negócios - 28/01/2019