A criatividade ganha papel central no mercado de trabalho e, ao menos no curto prazo, é a característica que irá sustentar muitos empregos frente à automação e aos avanços tecnológicos. A opinião é de Yuval Harari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e autor do best-seller Sapiens – Uma Breve História da Humanidade.
Em entrevista à CNBC, Harari defendeu que carreiras que valorizam o aspecto criativo do ser humano serão as menos afetadas por cortes ou substituição por robôs. “É certeza que muitos empregos desaparecerão, especialmente aqueles mais monótonos ou repetitivos. Mas trabalhos que demandam um certo grau de criatividade estarão a salvo — ao menos no curto prazo”, afirmou o israelense.
O estudo de 25 anos de Harari sobre a humanidade, aliás, rendeu dois livros best-sellers que entraram nas listas de leitura de Bill Gates. O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, também recomendou publicamente a leitura do trabalho de Harari.
Com base em sua pesquisa, o escritor isralense afirmou que não há “nada de errado” em acabar com trabalhos repetitivos e chatos. O que defende, porém, é que novos trabalhos sejam criados no lugar, acrescentando funções de mais valia e propósito para os profissionais.
No começo do ano, Harari já havia alertado em artigo para o The Guardian sobre o possível surgimento de uma ‘classe de pessoas inúteis’ até 2050. O acadêmico pede aos indivíduos e às instituições que se empenhem em garantir que as pessoas sejam capazes de aprimorar suas habilidades e assumir novas funções. “O que precisamos realmente proteger não são os empregos, são os humanos”, disse Harari. “Acho que o grande perigo do surgimento de uma classe de inúteis não é por conta da perda absoluta de empregos, mas pela grande dificuldade de treinar as pessoas e de elas se reinventarem”.
Na entrevista, ele comentou que se reinventar aos 50 anos, por exemplo, é uma tarefa, “embora não impossível, muito difícil de ser realizada”. “Exige muito de você e também do governo, que terá de apoiá-lo e treiná-lo novamente”.
Especialistas concordam que os avanços técnicos da automação e da inteligência artificial provavelmente levarão a perdas de empregos em massa nos próximos anos. No entanto, permanecem enormes as incertezas sobre a amplitude disto. Há quem defenda que os trabalhos manuais serão os mais cortados e também aqueles — como a escritora Alissa Quart — que argumentam que a classe média também sofrerá muito mais do que se imagina. O que parece ser unanimidade: todo mundo precisará, de alguma forma, reinventar-se.
Fonte: Época Negócios - 26/07/2018