Entre tantas previsões e exercícios de futurologia, uma coisa é certa: 2018 será o ano de Ubuntu. Originário de línguas africanas, esse termo foi propagado como filosofia de vida pelo Nobel da Paz Desmond Tutu. Em uma tradução livre, ele significa “eu sou porque você é”, “eu sou através de você” ou, ainda, “eu sou com você”. Ter Ubuntu é reconhecer que não vivemos ilhados em nenhum aspecto –pessoal, social, ambiental, político ou econômico. Existimos em rede desde sempre e, sem ela, sucumbimos.
A ideia de que somos ou seremos autossuficientes algum dia (talvez com a ajuda da tecnologia) é ilusão. Nem a mais avançada e prestativa Inteligência Artificial nos livrará da dependência alheia. Nascemos sob os cuidados de nossos pais. Crescemos em uma necessária teia de relações –na escola, vizinhança, trabalho etc. E envelhecemos buscando apoio para as limitações da idade. Foi pela empatia e cooperação (entre famílias, clãs, cidades e países) que viabilizamos a espécie humana e chegamos até aqui.
O Vale do Silício está atento ao tema. A figura do nerd genial, com passe-livre para se isolar em sua bolha, perdeu o charme. Não foram poucos os produtos e serviços “maravilhosos” que falharam por falta de entendimento sobre o usuário. Assim como não foram pequenas as gafes corporativas cometidas por insensibilidade. Em 2017 Mark Zuckerberg desculpou-se em público por promover (animadamente) uma ferramenta de Realidade Virtual tendo como cenário a devastação de Porto Rico após um furacão.
A habilidade de conhecer, compreender e conviver bem com os outros é a nova aposta das empresas de tecnologia para aprimorar o desempenho. Os recrutadores desse segmento estão de olho na Inteligência Emocional. Eles buscam profissionais com abertura e tato para se colocar no lugar do cliente, do colega, do chefe, de outro ser humano, enfim. Um app que nos surpreende com soluções simples e completas não é fruto somente da inovação tecnológica, mas de uma equipe com talento para sentir-se na pele do usuário.
Um ambiente empático e cooperativo se cultiva, principalmente, com a diversidade. Não basta mais, porém, colorir o escritório com etnias distintas. O momento é de levar a diferença também para as lideranças. Sem negros, mulheres, transgêneros, obesos ou idosos no topo das corporações seguiremos com uma visão de mundo bitolada (branca, jovem, magra e masculina). Se nem os líderes exercitarem a alteridade, por que suas equipes o farão? Por esse mesmo motivo, as empresas de tecnologia estão contratando profissionais de fora do universo digital (como antropólogos, sociólogos e psicólogos) para posições estratégicas.
O futuro a Ubuntu pertence. Quem melhor resistirá à automação, robôs e Inteligência Artificial serão os experts em entender e atender os anseios do outro, considerando nuances e sutilezas impossíveis para a tecnologia. Capacidades essencialmente humanas –como cuidar do próximo, ter compaixão ou agir eticamente — estarão cada vez mais em alta na próxima década. Que 2018 nos inspire a praticar nossa humanidade.
Fonte: Época Negócios - 11/01/2018