Abraçar a novidade, surfar a onda de transformação do mercado, adaptar-se. Dificilmente uma pessoa sai de uma conversa ou palestra sobre futuro do trabalho sem escutar um conselho dessa natureza.
De fato, a resistência à mudança um problema sério dentro das corporações. Do chefe que fecha os olhos para as políticas de trabalho remoto e de jornadas flexíveis, ao funcionário que delega seu desenvolvimento de carreira à empresa para a qual trabalha, os exemplos de comportamentos de oposição não são raros.
Em campo ainda atuam lemas como “sempre foi assim”, “em time que está ganhando não se mexe” ou “aqui não vai mudar”. Para quem tem uma dessas máximas na mesa de trabalho, Ricardo Basaglia, diretor geral da Michael Page, explica que “resultado passado não é garantia de retorno futuro”.
Tendo em vista as principais mudanças no mercado de trabalho, Basaglia citou algumas atitudes que só comprometem a empregabilidade:
Atrelar sucesso profissional à formação acadêmica
O título, o diploma, o nome da faculdade não são mais os principais filtros usados pelos recrutadores. À exceção de carreiras que exigem certificação, como advocacia, medicina, engenharia, Basaglia vê menos peso para a graduação no direcionamento da atividade profissional. Os processos seletivos evoluíram e hoje o valor está nas entregas e no caminho percorrido até ela.
Não é mais tanto o que a pessoa acumulou de conteúdo mas como ela usa o conhecimento para entregar resultado. “O grande desafio das universidades é medir a capacidade de seus alunos de entregar resultado e de colocar o conteúdo em prática”, diz Basaglia. A ideia de comprar conhecimento por meio de título está ultrapassada, garante o executivo.
Esconder-se atrás de uma só área, processo ou até carreira
A abertura para responsabilidades inéditas começa em derrubar as fronteiras que ainda resistem em alguns escritórios.
As novas maneiras de se trabalhar avançam no sentido de equipes multidisciplinares, já que a diversidade de ideias comprovadamente traz resultados para o negócio. Basaglia não acredita que a rigidez na divisão por departamentos faça sentido no futuro do trabalho. “O profissional deve identificar onde ele atua melhor”, indica.
A ideia de um trabalho para a vida inteira também já é ultrapassada. À frente está o fenômeno das carreiras múltiplas, realidade para muitos brasileiros.
Está comprovado que atuar em mais de uma área, além de acelerar o desenvolvimento e consequentemente aumentar a empregabilidade também gera satisfação profissional.
Não querer aprender e nem desaprender
Para serem bem remuneradas, as pessoas terão que estudar mais e mais. Se a graduação e até pós-graduação não são mais tão diferenciais assim, cursos pontuais feitos ao longo da trajetória apontam para o futuro educacional.
A abertura para novos conhecimentos passa necessariamente pela capacidade de desaprender. “Muitas vezes o que nos atrapalha é o saber enraizado”, diz Basaglia. Desaprender é mais desafiador do que aprender, segundo o especialista.
É certo que no futuro do trabalho irão surgir novas tarefas para profissões que ainda estão por vir. E muitas outras atividades estão com os seus anos contados. “Estamos em um mundo em que profissões aparecem e deixam de existir cada vez mais rápido”, diz Basaglia.
A transitoriedade não deve agir desestimulante dentro de um contexto mais dinâmico como o que está porvir. “ É ter o interesse mesmo sabendo que vai deixar de existir como é”, afirma. Não adianta buscar segurança, melhor é lidar com a instabilidade. Uma mentalidade que valorize o ganho de resiliência entra em cena para ajudar o profissional a encarar o futuro de maneira sustentável, segundo afirmou a futurista Elatia Abate.
Fonte: Exame.com - 24/05/2019