Você já se perguntou quando surgiu a ideia de que deveríamos trabalhar oito horas por dia? A jornada de trabalho de oito horas remete às lutas trabalhistas do século 19. Quando não havia limite de horas nas fábricas e a revolução industrial viu crianças de seis anos trabalhando nas minas de carvão, os sindicatos trabalhistas americanos lutaram arduamente para estabelecer uma semana de trabalho de 40 horas.
Muita coisa mudou desde aquela época, segundo artigo da Harvard Business Review. A internet transformou a maneira como vivemos, trabalhamos e nos divertimos, e a própria natureza do trabalho passou, em grande parte, de tarefas mecânicas para tarefas que exigem pensamento crítico, solução de problemas e criatividade.
Adam Grant, psicólogo organizacional e autor do best-seller “Originals: How Non-Conformists Move the World” (Originais: Como os não-conformistas movimentam o mundo, em tradução livre), afirma “quanto mais complexos e criativos forem os trabalhos, menos sentido fará prestar atenção ao número de horas trabalhadas”.
Apesar de tudo isso, a jornada de trabalho de oito horas ainda prevalece no mundo. “Como a maioria dos humanos”, diz Grant à publicação, “os líderes são notavelmente bons em imitar o passado, mesmo quando isso é irrelevante para o presente.”
Produtividade sabotada
Muitas organizações atualmente sabotam o fluxo de trabalho definindo expectativas contraproducentes quanto à disponibilidade, capacidade de resposta e participação em reuniões.
Pesquisa da Adobe mostra, por exemplo, que os funcionários gastam, em média, seis horas por dia utilizando o e-mail. Outro levantamento destaca que os profissionais verificam a caixa de entrada 74 vezes por dia, e tocam seus smartphones 2.617 vezes. Ou seja, estão em constante estado de distração e hiperatividade.
Jason Fried, cofundador da Basecamp e autor de “It Doesn’t Have to Be Crazy at Work” (Não precisa ser uma loucura no trabalho, em tradução livre), diz que para trabalhos criativos como programação e escrita, as pessoas precisam de tempo para realmente pensar sobre o serviço que estão fazendo. “As pessoas perdem muito tempo no trabalho”, de acordo com Grant. “Aposto que, na maioria dos trabalhos, as pessoas fariam mais em seis horas focadas do que em oito horas dispersas”.
Cal Newport, autor de “Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World,” (Trabalho Profundo: Regras para o sucesso em um mundo distraído, em tradução livre), afirmou à reportagem que “quatro horas de trabalho profundo e contínuo por dia é ideal para uma mudança produtiva e transformadora em nossas vidas”.
Fried concordou, dizendo que ele é realmente produtivo em metade do dia. “Se você não conseguir um bom fluxo de quatro horas por dia, colocar mais horas não vai compensar isso. Não é verdade que, se você ficar mais tempo no escritório, mais trabalho será feito”.
Apesar dos avanços na tecnologia, e talvez em grande parte por causa disso, muitos profissionais estão trabalhando além das 17h apenas para acompanhar suas cargas de trabalho — mas não precisa ser assim, afirma Newport.
Fonte: Época Negócios - 18/12/2018