A WGSN – autoridade global em análises e previsões de tendências – acaba de lançar novo estudo relacionado ao perfil do consumidor para o começo da década que se aproxima. A empresa global, que antecipa tendências e é responsável por direcionar a estratégia de diversas marcas, apresenta mapeamento inédito sobre o grupo de consumidores que influenciarão o mercado. Denominados como localtivistas, imperfeccionistas e aumentalistas, esses consumidores irão direcionar o modelo econômico e a forma como as marcas fazem negócio.
Neste sentido, a era do ativismo, na qual indivíduos pressionam a sociedade para mudanças de acordo com suas crenças e valores, ganha uma nova nuance em 2020, com impulso do ativismo local. Esse grupo – constituído prioritariamente por millennials – percebeu que o “ativismo de sofá” não funciona. Impulsionados pela campanha presidencial americana em 2016, os chamados localtivistas entenderam que seus votos podem fazer a diferença em eleições locais. Isso gerou um engajamento recorde deste público, uma vez que perceberam que o progresso desses movimentos depende de seu envolvimento ativo.
Confirmado essa movimentação, no Reino Unido, por exemplo, mais de um milhão de jovens britânicos se registraram para votar nas eleições desde o Brexit. Nos EUA, a adesão às ONGs ACLU e League of Women Voters disparou. No Brasil, o cenário é ainda mais complexo para esse grupo, uma vez que, a falta de valores compartilhados e corrupção, tornaram os brasileiros mais céticos em relação à democracia. Neste sentido, segundo o relatório de pesquisa mundial “Government at a Glance”, a confiança global nos governos despencou de 70% para 42% em 2009*. Contudo, há um fator ao redor do mundo interessante com relação aos protestos: cada vez mais, eles têm contado com a participação multigeracional, já que são mais impulsionados por crenças e exigências por mudanças políticas de toda uma sociedade.
Mas o que isso tem gerado? Conforme a sociedade entende que países e governos não têm mais poderes para lidar com as questões do mundo atual, os cidadãos assumem o controle. A China é exemplo desta mudança. À medida que a população percebeu que o estado tem pouco colaborado para atender as suas necessidades, fez com que as doações locais às ONGs quadruplicassem desde 2007, chegando a US$ 16 bilhões em 2016. Vale reforçar que esse grupo tem fortemente impulsionado o capitalismo comunitário – que é novo modelo econômico que terá efeitos a longo prazo nas regulamentações governamentais, no planejamento cívico e no futuro do trabalho e do desenvolvimento regional. Quando nos voltamos ao papel que empresas têm diante desse cenário, o questionamento que fica é como estas devem se preparar para atender pessoas que priorizam o crescimento da comunidade e o engajamento cívico local. Em resumo, a resposta está em sendo parte da solução e não ignorando os problemas.
A Era da Ansiedade
Vivemos a era da ansiedade – que já é considerada uma epidemia. Está em todos os lugares, em qualquer cultura. Há quem se refira aos millennials como “Geração Xanax”. De acordo com o Google Trends, as pesquisas envolvendo a palavra “ansiedade” dobraram desde 2015, com a Irlanda e a Austrália liderando essa alta desde 2017. E tudo isso tem causado um verdadeiro impacto na indústria: o mercado de bem-estar, incluindo o turismo (com projeções de US$ 808 bi até 2020), aplicativos, produtos de beleza e exercícios restauradores, deve se manter em alta até 2020.
Contudo, uma doença que pode ser derivada deste distúrbio – a depressão – tem se tornado assunto muito sério. De acordo com um estudo divulgado em 2017**, “uma em cada três meninas sofrem de ansiedade e depressão” – o que representa um aumento de 10% em relação à década passada. Mas é possível combater esse “mal do século”? Sim! É chegado o momento em que está tudo bem não ser perfeito. E nada melhor do que a apatia seletiva para “remediar” esse mal.
A apatia seletiva é fundamental na promoção do equilíbrio mental. Ela está em tudo o que os indivíduos são capazes de controlar e dedicar totalmente a energia física e mental. Ou seja, ao focar em coisas com as quais nos importamos, conseguimos resultados melhores, diminuímos os níveis de ansiedade e aumentamos a produtividade. Além disso, ela nos “habilita” a aceitar as imperfeições. Com ela, fortalecemos o “movimento” dos imperfeccionistas, grupo que foca no autoconhecimento, mas longe do conceito de “atenção plena”.
Não é difícil notar o aumento deste modelo de consumidor com a intensificação de campanhas realistas, sem retoques, que deverá ser a maioria em breve. E essa é uma das vertentes que o grupo defende. Além disso, observam -se exemplos deste movimento em países como a França, que já conta com lei que exige veiculação com aviso sobre imagens irreais, visando, principalmente, o combate as desordens alimentares. Outro caso é da farmácia CVS, que contemplará até 2020 uma espécie de selo “CVS Beauty Mark” em todas as imagens da marca que não tenham sido retocadas. Esse é apenas um dos casos de como as empresas poderão se relacionar com esse perfil de consumidor.
Qual será a melhor forma de conversar com esse grupo de indivíduos interessado em menos ansiedade e que aprecia um toque de humor negro? Simplifique a experiência de compra e brinque com sarcasmo. A chegada da tecnologia 5G, capaz de aprimorar as transmissões em tempo real, será um artifício para indústria se comunicar com esse público. Haverá uma adesão do movimento asiático “assista agora, compre agora”.
A Tecnologia Como Aliada
Falando de mundo digital, não poderíamos deixar de citar a era tecnológica, que já alcançou diversos patamares. Há quem ame e quem goste menos. Mas, uma coisa ninguém pode negar: a tecnologia é um caminho sem volta. E com isso um novo perfil de consumidor surge: os aumentalistas – grupo que defende os avanços tecnológicos, mas quer que a vida seja otimizada por ela, em vez de consumida. E há pessoas otimistas com relação a como as máquinas podem contribuir – ainda mais – em nossa rotina.
Uma pesquisa da Harvard Business Review com indivíduos dos EUA, Canadá, Reino Unido, China e Brasil apontou que 52% dos pesquisados acreditam que a inteligência artificial será positiva e outras 82% afirmaram que suas últimas interações com a IA foram positivas. O que é interessante é que 92% reconhece que a IA estará presente mais cedo ou mais tarde em suas vidas.
Estudiosos acreditam que haverá um impacto relevante na sociedade com a combinação da inteligência humana à artificial, como, por exemplo, crescimento exponencial da produtividade e ascensão da indústria neurotecnológica. Segundo o relatório “Emerging Jobs”***, os que mais serão beneficiados são os engenheiros de aprendizagem de máquinas, seguidos pelos cientistas de dados. A consultoria Gartner prevê que até 2020 “a IA vai criar 2,3 milhões de postos de trabalho e eliminar 1,8 milhão”.
Situações que envolvem o ambiente da IA e tecnologia, que consideraríamos que aconteceria somente em um futuro distante, já estão a alguns passos. Elon Musk, da empresa Neuralink – que desenvolve pesquisas que visam aprimorar o cérebro por meio da tecnologia – declarou recentemente: “Já somos ciborgues. O seu telefone e o seu computador são extensões de você, mas a interface ocorre por meio dos dedos ou da fala, o que é muito lento”. Neste sentido, Musk ainda acredita que logo será possível encontrar dispositivos como o “rede neural” – implantados e conectados ao cérebro – que vai permitir que as pessoas interajam com um computador sem tocarem no teclado ou no mouse.
Mais uma vez, tudo sinaliza que a tecnologia 5G vai chegar e estimular a adoção em massa dos recursos de RA e RV e causará um grande impacto no futuro da propaganda, principalmente as marcas que querem conversar com esse público. Neste ponto, profissionais das agências precisam analisar como o marketing colateral poderá sobreviver nas diversas plataformas (móveis e desktop) e superfícies (óculos inteligentes e telas de RV). Ou seja, mais um desafio que tira a indústria da zona de conforto.
E a pergunta que fica: no que sua empresa vai apostar para ganhar mercado em 2020?
Fonte: Portal Newtrade - 06/07/2018