A equipe do escritório em que você trabalha ficou mais enxuta. A partir daí, além de desempenhar suas funções de sempre, você também tem acumulado trabalho extra. Se antes a primeira hora do dia era reservada para tomar café da manhã e praticar alguns exercícios, agora você mal tem tempo de parar cinco minutos em uma padaria pra comer um pão na chapa e está sedentário. Ao chegar em casa depois de um dia exaustivo, só quer tomar uma ducha e cair na cama, mas a realidade é que segue no smartphone respondendo e-mails de madrugada. Dormir oito horas por dia virou luxo, você nem consegue se lembrar da última vez que fez isso.
O cenário hipotético se encaixa muito bem na vida de muitos brasileiros, especialmente no período de agravamento da crise econômica e aumento do desemprego. Muita gente que segue empregada enfrenta sobrecarga de trabalho e desmotivação com salários aquém do esperado, diante do contexto em questão. Ainda assim, acaba trabalhando em excesso com o intuito de se manter na vaga. A lógica, no entanto, prejudica a saúde do trabalhador e não se reverte em resultados positivos para as empresas.
A ciência comprovou o que o senso comum já havia deduzido: sono de qualidade é fundamental para ter uma boa produtividade. Para quem pensava que isso ficava somente no campo da sabedoria popular, eis a comprovação: estudo chefiado pelo cientista alemão Jan Born, da Universidade de Lübeck, mostrou que pessoas com oito horas de sono têm um potencial muito superior em resolução de problemas. Para comprovar isso, a pesquisa contou com três grupos de pessoas que foram designadas para fazer exercícios de matemática em duas etapas. A primeira envolvia a apresentação do problema, enquanto a segunda etapa era dedicada à sua resolução.
O primeiro grupo tinha permissão de dormir oito horas entre uma etapa e outra do problema. O segundo grupo passou a madrugada em claro entre as duas etapas. O terceiro, como grupo de controle, recebia a primeira etapa de manhã e a segunda no turno da noite, sem intervalo de sono entre as duas etapas.
O resultado foi categórico: 60% das pessoas que dormiram oito horas conseguiram resolver os problemas de matemática. Quanto aos outros dois grupos, pouco mais de 20% dos integrantes se saíram bem na resolução dos problemas. A pesquisa mostrou que o sono tem um papel fundamental na reorganização das ideias, por isso o desempenho tão superior por parte daqueles que dormiram bem.
O resultado é um alerta para as empresas que preferem insistir na cultura de cobrar cada vez mais de seus funcionários, esperando maior produtividade com mais tempo de trabalho. A lógica é inversa. Um empregado descansado tem um papel muito mais forte dentro da equipe do que aquele que vive dobrando noite atrás de noite. O resultado da sobrecarga é limitação do espectro para resolução dos problemas, aumento do estresse, irritabilidade e maior possibilidade de erros.
Volte ao tempo. Lembre-se dos conselhos que recebia quando criança para dormir cedo. Lembre-se de seus pais ou responsáveis fiscalizando o relógio com disciplina para controlarem o seu horário de ir para a cama. Se isso é tão reforçado na infância, por que perderia a importância na fase adulta?
Fonte: G1 - 06/04/2018