Segundo a entidade, o indicador que mede as expectativas do empresário em relação ao futuro também atingiu a maior pontuação dos últimos quatro anos. No comparativo anual, tanto as pequenas como as grandes empresas registraram crescimento na confiança, de 16% e 15,3%, respectivamente.
É nesse clima positivo que os empreendedores estão traçando planos para o próximo ano. CEO e sócio-fundador da Enviou – startup voltada à operação de e-commerce, que oferece soluções de e-mail marketing para a recuperação de carrinhos abandonados nas lojas virtuais –, Felipe Rodrigues diz que até o momento, a empresa atende 26 mil lojas e planeja expansão para a América Latina, a partir do próximo ano. “Estamos iniciando a integração do nosso sistema com plataformas da América Latina. Já estamos integrados com o Mercado Livre da Argentina, México e Colômbia. Há uma semana, começamos a atender 40 lojas instaladas nesses países”, conta.
Além da expansão, em 2018 a Enviou também vai investir cerca de R$ 200 mil no redesenho da ferramenta. “Queremos facilitar a utilização do produto, proporcionando aos nossos clientes uma melhor experiência”, afirma Rodrigues. A ampliação da equipe também faz parte do planejamento. “Vamos contratar três vendedores experientes, porque queremos conquistar clientes maiores, e mais três pessoas para a área de atendimento.”
O empresário conta que a crise foi positiva para o negócio, porque muitas pessoas procuraram uma forma alternativa de ganhar dinheiro e montaram loja virtual. “Para nós foi ótimo, porque nosso serviço ajuda a vender mais. Enviamos e-mail marketing para clientes que deixam carrinhos abandonados nas lojas online, para que eles voltem ao site e concluam a compra.”
Rodrigues conta que, por dia, são criadas 1,5 mil lojas online no Brasil. “Fizemos essa estatística com base nos dados das 14 empresas que oferecem plataforma para e-commerce e são nossas parceiras.”
No mercado há dois anos, a Enviou faturou R$ 350 mil no primeiro ano de atividade. Em 2017, deve chegar a R$ 900 mil e no próximo ano prevê faturamento de R$ 2,5 milhões. O clima de otimismo é estimulante para os negócios, porém o sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, Haroldo Eiji Matsumoto, afirma que ter cautela nesse momento é a alternativa mais adequada.
“É preciso ter cuidado na hora de definir como serão alocados os recursos e esforços da empresa. Por outro lado, a crise também trouxe à tona a ineficiência de alguns negócios e, por esse motivo, há espaço para que empresas bem estruturadas possam avançar e conquistar novos clientes.”
Segundo ele, o planejamento exige dedicação, esforço e disciplina. “O empreendedor que conseguir implantar a cultura do planejamento irá colher frutos em longo prazo e se blindar das intempéries do mercado. Um bom planejamento dá ao empresário o controle sobre os rumos do negócio”, ressalta. Matsumoto diz que muitos empreendedores acreditam que fazer planejamento é importante apenas para grandes empresas, o que não é verdade. “O planejamento é uma ótima estratégia para os pequenos negócios, por terem menos recursos e, muitas vezes, poucas reservas, ou seja, não podem errar na gestão empresarial.”
Falta de reserva não é problema para o sócio-fundador da Betalabs – especializada em software de gestão para o comércio eletrônico –, Luan Gabellini, que projeta crescer 70% em 2018. “Utilizamos o período mais acentuado da crise para refazer a tecnologia e lançar um produto reformulado em 2018. No lugar de demitir, aproveitamos que tínhamos uma boa equipe já formada e realocamos o pessoal para redesenhar a ferramenta”, conta.
Gabellini diz que investiu R$ 1 milhão para desenvolver o novo software. “Isso só foi possível porque a empresa estava saudável, sempre nos preocupamos em manter uma reserva para períodos difíceis. Entramos em operação em 2011 e vínhamos dobrando o faturamento a cada ano. Em 2016, o ritmo foi mais lento e, neste ano, vamos crescer cerca de 20%.”
Formado em administração, Gabellini considera que o otimismo, de alguma forma, ajuda a estimular a atividade econômica. “Tenho essa sensação como empreendedor, mesmo sabendo que se um professor que me deu aula na Fundação Getúlio Vargas me ouvir falando isso ficará bravo. Mas acho realmente que a boa expectativa interfere no resultado da economia.”
Segundo ele, investir na reformulação do produto foi importante para deixá-lo mais barato e tornar o negócio mais competitivo, atraindo empreendedores que não têm tanta capacidade de investimento. Além de permitir a venda online, a ferramenta também faz gestão financeira, gestão fiscal e emissão de notas fiscais. “O software antigo custa entre R$ 20 e R$ 50 mil. O novo, entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Estamos implantando a nova ferramenta nos clientes que já temos. Em fevereiro, vamos passar a vender o novo modelo.” A Betalabs atende 320 clientes e pretende fechar 2018 com mais 100 novos.
A startup FX Retail Analytics, de Walter Sabini Junior, nasceu em 2015 e oferece tecnologia que mede o fluxo e o comportamento de consumidores e vendedores em lojas físicas. “Mesmo estando no mercado há dois anos e contarmos com 1,2 mil clientes, passamos pelo período de crise tendo como proposta ajustar a ferramenta. Ainda assim, crescemos em vendas, porque o mercado quer e demanda esse tipo de produto”, conta.
Com a retomada da economia, o empresário planeja ampliar o número de clientes e iniciar o ano novo com foco na força comercial. “Nosso planejamento prevê, a partir do próximo ano, investimento em marketing e vendas, para que possamos escalar o produto no varejo. Hoje, já temos clientes com 100% da rede de lojas monitoradas.”
O produto, segundo ele, mostra aos varejistas se a equipe de vendas está ou não tendo bom desempenho. O empresário também consegue entender se as ações de marketing estão gerando impacto e promovendo o aumento de fluxo, e se esse fluxo é de qualidade. “Nossa ferramenta deixa claro para o varejista como está sendo o fluxo de clientes. Caso tenha problemas de queda no faturamento, ele poderá saber se o problema é relacionado ao ponto de venda ou se é por conta da ineficiência da equipe.”
Sabini Junior afirma que uma loja pequena pode implantar o sistema pagando mensalidade de R$ 149. “Dependendo do número de lojas de uma rede, a mensalidade pode sair por R$ 99. O produto se paga facilmente, porque ao corrigir a ineficiência do negócio, o varejista aumenta a sua rentabilidade.”
Empresários ajustam produtos para crescer
A FX Retail Analytics planeja fechar 2017 com 1,3 mil clientes e chegar ao final de 2018 com mais que o dobro de usuários. “Nosso planejamento estratégico tem como objetivo chegar a dez mil pontos até o final de 2020. Agora, estamos trabalhando para que a ferramenta possa passar mais informações de forma preditiva”, conta.
Fundador da Verity – especializada em consultoria e desenvolvimento de plataformas –, Alexandro Barsi considera que o período de crise é bom momento para se reinventar. “Em 2016, por causado período de recessão, deixei claro para os funcionários que não iríamos buscar novos clientes, mas apoiar os clientes que já tínhamos. Também aproveitei o período para implantar novos processos de controle interno, que resultaram em aumento na eficiência”, afirma.
Ele conta que fechou 2016 com crescimento de aproximadamente 30% em relação ao ano anterior. E mesmo mantendo o foco do negócio na base de clientes, aumentou a carteira. O negócio deve fechar 2017 com o mesmo porcentual de crescimento. “Para 2018, a meta é crescer pelo menos 30% e contratar novos executivos. Em 2017, praticamente dobramos o número de clientes, passando de 12 para 20 clientes ativos”, afirma.
Barsi diz que em 2018 também pretende fortalecer a relação com os clientes que necessitam de apoio para passar por esse momento de transformação digital nas empresas. Porém, para que o negócio siga crescendo nos próximos anos, o empresário optou por investir na contratação de uma consultoria. “Achei melhor contratar especialistas para nos ajudar a fazer um planejamento estratégico para os próximos três anos. Há três meses, estamos pensando sobre o que queremos para os próximos anos, para que direção o mercado vai apontar, qual será a próxima onda etc.”
Fonte: Estadão - 27/11/2017