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O desejo de abrir um negócio próprio geralmente é acompanhado de muitos sonhos: ser seu próprio chefe, trabalhar quando quiser e fazer a empresa ser do seu jeito são alguns deles.

Porém, a vida de um empreendedor é menos deslumbrante do que se costuma pensar – e muitos acabam se afundando em prejuízo por pensar mais nos holofotes e nas paixões do que na viabilidade da sua ideia de negócio.

Se você está nessa situação, sabe que é preciso virar o jogo, e para ontem. Essa mudança de atitude passa por uma tarefa que parece ser sinônimo de atividade chata e feita só por empresas grandes: governança.

Apesar do susto inicial, o termo serve para qualquer negócio e se traduz em ações bem simples. “Governança corporativa é a forma como uma empresa se relaciona com os diferentes públicos dela, internos e externos: acionistas, consumidores, fornecedores, funcionários e até mesmo o meio ambiente”, explica Ana Novaes, economista e membro da CFA Society Brazil.

Isso é importante porque, ao manter um bom relacionamento dentro e fora do negócio, é possível tomar melhores decisões (e sobreviver).

“A governança é algo muito ligado ao processo decisório: é formalizar resoluções de acordo com o interesse dos sócios, melhorar os controles e estabelecer relações de hierarquia”, explica Rafael Mingone, sócio-diretor da RMG Capital, que desenvolve soluções de governança corporativa.

“Os empreendedores se focam muito nas atividades do dia a dia e se esquecem de pensar em longo prazo. É preciso perceber o cenário à sua volta, reinventar seu modelo de negócio e, assim, continuar fazendo parte desse cenário. Você pode, assim, buscar alternativas de capitalização em longo prazo no mercado de capitais: fusão e aquisição; reestruturação de dívidas; aproximação com fundos; e até um IPO.”

Essa necessidade de buscar novas alternativas de financiamento é cada vez mais importante, diante do longo período de crise econômica no país.

“Cada vez mais o mercado começará a exigir o trabalho de verificar os riscos corporativos e se antecipar a eles, inclusive na hora de fazer um investimento no seu negócio. Não dá mais para o empreendedor achar que governança é um custo acessório, e só se preocupar com isso quando a situação piora”, afirma Luciano Bordon, líder de consultoria de governança corporativa da Grant Thornton.

A necessidade de ter harmonia de decisões tomadas na empresa está bem clara: só assim seu negócio poderá sobreviver, seja em termos de financiamento ou de saúde na relação com todos envolvidos no empreendimento. Porém, como fazer isso na prática?

Especialistas elencaram algumas tarefas comuns que passam pelo processo de ter uma boa governança corporativa até na menor das empresas. Confira:

1 — Analise sua empresa com uma lupa – e peça ajuda, se necessário

Todos sabem que uma grande empresa se divide em diversas áreas: comercial, financeiro, jurídico e recursos humanos, para citar apenas alguns exemplos.

Em uma pequena empresa não é muito diferente – há as mesmas áreas, mas elas são menores e pedem menos funcionários. Mesmo com a diferença de escala, o cuidado deve ser o mesmo se você quer que seu negócio sobreviva por muitos anos mais.

Mas como saber onde melhorar? Se você não encontrar as respostas dentro de você ou da sua equipe, é possível contratar um consultor externo para fazer um diagnóstico completo da sua empresa: de relação entre os sócios até o cumprimento das obrigações tributárias.

Esse olhar com lupa deve ser feito tendo como base um grande questionamento: onde você quer estar no curto, médio e longo prazo? Só assim é possível montar um plano de negócios e, então, medir quão longe seus controles e processos estão do necessário para cumprir as metas e objetivos traçados. Por fim, vem um processo de mentoria.

“Com todo esse processo consultoria, é possível passar dos mentores externos, que trazer credibilidade ao seu negócio, para a inclusão de pessoas destacadas dentro da empresa, em uma etapa futura. Isso pode incluir até seu futuro sucessor”, explica Daniel Maranhão, líder de consultoria tributária da Grant Thornton.

2 — Crie conselhos e comitês, para decisões harmoniosas

Depois de uma boa análise dos prós e contras da sua empresa, é possível estruturar grupos para pensar em como cada parte do negócio pode se desenvolver mais (incluindo as partes que já vão bem). Eles ajudarão sua gestão, indicando as melhores práticas em cada segmento da empresa tanto para o dia a dia quanto para estratégias em longo prazo.

Novamente, talvez você ache interessante incluir pessoas de fora do negócio – especialmente se seu empreendimento não conta ainda com muitos funcionários. “Os conselhos ou comitês podem ser compostos por pessoas da própria organização, como gestores e funcionários, quanto especialistas externos pessoa física ou pessoa jurídica, caso o empreendedor tenha uma operação mais enxuta”, explica Bordon, líder de consultoria de governança corporativa da Grant Thornton.

Pode parecer algo óbvio a reunião entre membros para a tomada de decisões coletivas. Mas não é – especialmente se seu negócio for uma empresa familiar, como muitas pequenas empresas são.

“É fácil falar na teoria, mas na prática é mais difícil se sentar e discutir com os sócios, quando cada um tem seu interesse”, completa Maranhão, também da Grant Thornton. “O que é importante é quebrar a ideia de que o fundador tem que ser o melhor sempre. Ele deve ser uma pessoa mais aberta para a ajuda, porque isso é que dá perenidade ao negócio. Mais mentes pensando geram soluções mais bem fundamentadas.”

3 — Adeque seus contratos para essa nova realidade

Depois de arrumar a casa com uma boa consultoria, é hora de formalizar as mudanças.

Em termos mais jurídicos, isso significa rever o Acordo de Acionistas e discutir os papéis de cada sócio – o que pode pedir uma reestruturação societária. O Estatuto Social, espécie de documento de identidade da sua empresa, também pode sofrer alterações.

Mas, mais do que mudanças técnicas, a formalização das mudanças envolve também a adoção comportamental de novos hábitos. “É preciso criar a rotina das reuniões entre sócios, o conselho de família, o conselho consultivo e demais áreas. Em especial, devemos ter atenção com os controles, gestão financeira e contabilidade”, explica o consultor da RMG Capital.

4 — Já se acostumou? Chame uma auditoria e faça a prova de fogo

Depois que um tempo se passar e seu negócio tiver incorporado as práticas daquela primeira consultoria, é hora de passar por mais uma prova de fogo: uma auditoria, que analisará ainda mais a fundo seu empreendimento, incluindo suas demonstrações contábeis.

Por que sua empresa se submeteria a mais uma provação? Porque é mais uma chance de garantir a qualidade do seu negócio – o que pode ser útil em tempos mais difíceis, como os atuais. “Isso dá uma enorme segurança, e não apenas para os donos. É importante para bancos e, no fim, para qualquer investidor interessado na empresa”, explica Mingone, da RMG Capital.

5 — Revisite sua missão inicial e elabore um código de conduta

Após tudo isso, sua empresa já deve estar bem ciente de quais são suas metas e objetivos – e como ela planeja alcançá-los. Por isso, a última etapa é repassar tais ideais para os novos integrantes da equipe, por meio de um Código de Conduta.

“Vocês tratam seu fornecedor da mesma forma? E o atendimento ao consumidor, como é? Todo mundo consegue perceber o que é uma boa governança: por exemplo, quando o cliente pede ao ponto e o bife chega ao ponto; e, se não chegar, sempre haverá a troca imediata”, exemplifica Novaes, da CFA Society Brazil.

“A governança está em todos lugares; a complexidade da governança é que irá variar. Às vezes, as pessoas praticam governança e nem sabem. Se você tem uma empresa bem gerida, com todos satisfeitos e adotando as regras propostas, ela possui uma boa governança corporativa.”

Fonte: New Trade - 07/04/2017

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