A automação de serviços em algumas áreas do mercado de trabalho será um dos fatores que causarão o corte de vagas e a mudança das capacidades de algumas profissões. Esta nova revolução industrial foi, inclusive, um dos temas do Fórum Econômico Mundial de 2018, realizado em Davos, na Suíça. Para profissionais de recursos humanos e acadêmicos, uma das formas para que trabalhadores tenham mais chances de permanecer empregados é se tornarem mais criativos e inovadores em suas funções nas empresas.
A analista de Educação Corporativa Gabriela Rodrigues, do Bradesco, percebeu que, depois de fazer um curso de criatividade promovido pela empresa em que trabalha, as tarefas mais simples que ela tem que desempenhar começaram a ser executadas com mais fluidez. “Quando falamos de criatividade pensamos no que é mais complexo, mas não é assim. Busco no meu dia a dia trabalhar mais a cocriação com outras pessoas. Acho que isso ajuda bastante”, afirma.
Gabriela incentiva os colegas a fazerem cursos voltados à criatividade para facilitar o trabalho em equipe e a busca por soluções para os problemas que aparecem. “É o que dá mais certo, é o que mais funciona, quando a gente vê que uma ideia atrelada à outra. Com certeza fica mais completo.”
Conversar com os colegas de trabalho, como faz Gabriela, é uma das dicas dos especialistas para ajudar a desenvolver a criatividade. Eles alegam que uma boa ideia muitas vezes surge de questionamentos discutidos por várias pessoas.
Ou seja, mesmo que uma pessoa não se considere criativa, ela pode desenvolver atitudes que favoreçam essa característica. Uma das principais dicas, é pensar nas pequenas coisas que podem ser feitas de uma forma diferente e mais efetiva. “Se você não tem a habilidade de experimentar ou pensar em coisas novas, você é substituível”, afirma o sócio-diretor do Grupo Bridge, Celso Braga. A empresa presta consultoria na linha de criatividade e inovação.
Braga também reforça que a criatividade aparece nas pequenas coisas dentro das empresas e que os funcionários precisam entender que nem sempre eles precisam revolucionar todo o processo de uma empresa, mas sim melhorar as funções. “A pessoa confunde criatividade com ser um Einstein, fazer um negócio totalmente disruptivo, gigantesco. Quando ela entende que o potencial criativo pode ser aplicado em uma pequena coisa, então ela pensa: ‘Caramba, eu posso’. E junto com o processo de criatividade, vem um crescimento da autoestima”, relata.
Professor da pós-graduação da Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Carlos Vital Giordano segue uma linha parecida. “Hoje, por conta da tecnologia, há uma pressão em todo lugar que exige que nós sejamos criativos. Algumas pessoas pensam que criatividade é um dom, mas ela pode ser treinada, desenvolvida”, diz.
Giordano defende que a criatividade floresce quando praticada em grupo, em um ambiente propício e em que haja um estímulo por resultados.
O bem-estar físico e mental, segundo os profissionais de RH permite que o cérebro trabalhe melhor, não só no desenvolvimento da criatividade não só no local de trabalho mas até na maneira de enfrentar o quadro resultante do avanço da automação e da inteligência artificial. “A automação está invadindo áreas que não imaginávamos, porém o que ela faz é resolver problemas conhecidos”, afirma o professor Renê de Paula, que ministra MBAs voltados para inovação na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESMP) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
De acordo com ele, especialistas em determinadas funções não podem ficar confortáveis com a forma atual que cumprem suas tarefas, porque elas podem ser suplantadas pela tecnologia. Este seria o caso da criação de softwares capazes de fazer um volume maior de tarefas em menos tempo.
Sem conforto. “Nosso maior esforço é resistir à zona de conforto, é se expor e se alimentar de coisas novas”, afirma de Paula. O professor é um dos que defendem que os funcionários devem se esforçar para “pensar fora da caixa”, principalmente por meio de experiências pessoais e não necessariamente fazendo apenas cursos dentro da área.
“Por exemplo: alguém que já esteve no Maranhão provavelmente conhece algum contexto que vai permitir a criação de uma solução que ninguém em São Paulo seria capaz de pensar”, afirma.
As funções candidatas a sumir mais rapidamente são aquelas que requerem métodos repetitivos de trabalho. É uma situação semelhante, em muitos aspectos, à enfrentada pelos operários que foram substituídos por máquinas durante a Revolução Industrial.
Empresas devem proporcionar ambientes adequados
Os especialistas de recursos humanos concordam que é fundamental as empresas propiciarem um ambiente voltado para a criatividade e a inovação dos funcionários. “Para a criatividade fluir, a equipe precisa estar muito engajada, as pessoas precisam ter autonomia e a empresa estar disposta a aceitar os erros”, afirma a gerente de Recursos Humanos da consultoria empresarial Mazars Cabrera, Milena Bizarri.
A consultora compara as grandes empresas a um grande navio, que faz as curvas com mais dificuldades e depende da expertise de sua tripulação. “As empresas precisam jogar na mão dos indivíduos o conhecimento, para que a inovação saia dali.”
Diretora de desenvolvimento de novos serviços e produtos da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Sonia Gurgel lembra que, atualmente, o grande mote das empresas é a inovação e que esta depende da criatividade dos funcionários. “Isso (a abertura para que os funcionários busquem a criatividade) tem de ser espelhado nos valores da empresa, ser premiado e reconhecido. Do contrário, se o resultado não for o esperado, a consequência mais comum é a demissão”, afirma.
Por conta disso, é preciso que os líderes e gestores dentro das companhias sejam treinados para serem facilitadores do trabalho dos seus comandados. Essa cultura, mais comum em startups e empresas mais novas, ainda enfrenta algumas barreiras em empresas mais antigas no mercado e que contam com chefes da geração passada, mais acostumados a agirem como fiscalizadores na coordenação das tarefas.
Sem a abertura para que os funcionários deem ideias, eles não se sentem seguros para inovar e as ideias criativas não aparecem, para prejuízo da própria empresa.
10 Atitudes para estimular a inventividade
1.Observar o que pode ser feito de diferente e não ter receio de colocar sua ideia em prática
2.Ler bastante para ficar sintonizado com as tendências que surgem e ter novas ideias
3.Conversar com os colegas de trabalho, pois uma boa ideia muitas vezes surgem de questionamentos discutidos por várias pessoas
4.Ter experiências fora da rotina da trabalho, como viajar, assistir a filmes, passear pela cidade, pois isso ajuda a relaxar a mente, a ter novos pontos de vista e ideias
5.Não ter medo de tentar sair um pouco de suas funções para tentar resolver os problemas que surgem no ambiente de trabalho
6.Expandir o networking para conviver com pessoas de outras áreas e ouvir ideias novas para estimular áreas diferentes do cérebro
7.Procurar ficar com uma boa condição mental e fisicamente para que o cérebro possa trabalhar melhor
8.Desenvolver um hobby que o estimule mentalmente
9.Pensar sempre nas pequenas coisas que podem ser feitas dentro da rotina de trabalho de uma forma diferente e mais efetiva
10.Medir quantos problemas foram resolvidos em uma semana e anotar quantos deles foram feitos de uma maneira que você considere inovadora
Fonte: Estadão - 29/01/2018