No domingo (24), a cerimônia de entrega do Oscar teve uma abertura bem diferente do convencional. Em vez de mestres de cerimônias fazendo piadinhas sem graça ou números musicais sobre os filmes indicados, a banda Queen e o cantor Adam Lambert, seu atual vocalista, subiram ao palco para tocar sucessos do grupo retratado no filme Bohemian Rhapsody. Ao final da noite, Rami Malek levou a estueta de melhor ator. O filme ainda foi premiado nas categorias: edição; edição de som e mixagem de som.
Tratou-se de uma tentativa clara de alavancar a audiência do show, em queda acelerada desde 2014. Afinal, nesse momento, nenhuma banda do mundo é tão popular quanto o Queen. Recentemente, Bohemian Rhapsody conquistou o título de cinebiografia mais bem-sucedida da história do cinema, com uma bilheteria mundial de US$ 850 milhões – o custo do filme foi de US$ 52 milhões.
Ao mesmo tempo, a música-título tornou-se a canção mais tocada de todos os tempos em serviços de streaming (1,6 bilhões de vezes). Por fim, dois álbuns da banda ocuparam o Top 10 no final do ano passado: a trilha do filme e a coletânea Greatest Hits I & II: The Platinum Collection.
Para o público leigo, a impressão que dá é que estamos testemunhando um renascimento da banda britânica, que retornaria das cinzas para voltar a ganhar dinheiro com seus antigos hits. Mas a verdade é que a marca Queen nunca foi embora. Muito pelo contrário: nas últimas três décadas, a empresa Queen Productions, que controla as finanças da banda e de seus membros remanescentes, se transformou em uma máquina de fazer dinheiro.
Estima-se que a empresa movimente hoje algo em torno de 355 milhões de libras, ou US$ 463 milhões. Parte desse dinheiro vêm da venda de discos – são mais de 300 milhões de álbuns comercializados em todo o mundo. Outra fatia vêm de direitos autorais: as músicas de Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon já foram usadas em mais de 375 longas-metragens e incontáveis anúncios.
Há ainda a renda proveniente do espetáculo teatral We Will Rock You, dos shows da banda cover Queen Extravaganza, dos games Queen: The eYe, Guitar Hero e Rock Band. Desde 2012, outra receita importante é a proveniente das turnês milionárias que a banda fez ao lado do cantor Adam Lambert – uma delas incluiu o Rock in Rio, em 2015.
Diante dos números, fica a pergunta: qual o segredo da longevidade do Queen? E o mais importante: como essas estratégias podem ser aplicadas ao mundo dos negócios? Conheça aqui cinco lições de negócios do Queen.
- Conheça seu público e toque para ele
Não há dúvida que grande parte do sucesso da banda se deve às suas canções. Aqui, não se trata apenas de inspiração. A banda fez um esforço focado para entender o que o público queria deles – e entregar resultados. “Nos shows, nós prestávamos atenção para ver que tipo de música, de sonoridade, de letras o público apreciava mais”, disse certa vez Brian May. Ao notar que o público gostava de cantar junto com a banda, o quarteto tratou de criar hinos, músicas épicas que podiam ser entoadas por estádios lotados. Entender o perfil do seu público e prever o que ele espera do seu produto está por trás do sucesso de muitas empresas.
- Fuja do convencional
No estúdio ou no palco, o Queen sempre primou pela originalidade, criando harmonias jamais vistas na música pop, misturando hard rock e ópera, usando sobreposições de canais para criar efeitos sonoros, ou ainda vestindo figurinos exuberantes no palco. Um líder deve ser capaz de surpreender sempre, sem medo de errar ou chocar seu público.
- Seja resiliente
No filme, fica claro como o grupo bancou até o fim o lançamento de Bohemian Rhapsody, mesmo quando executivos da indústria musical e da mídia ridicularizavam seu formato e duração de seis minutos. Como ninguém queria divulgar o single, eles levaram cópias piratas diretamente para os programadores das rádios. Assim que a canção começou a ser tocada, os fãs começaram a procurar o disco. Criar demanda por algo que o público nem sequer conhecia pode fazer toda a diferença em um mercado competitivo.
4. Dê espaço pra sua equipe brilhar
Os hits do Queen foram escritos por diferentes membros da banda. Freddie Mercury escreveu “Bohemian Rhapsody”, Brian May compôs “We Will Rock You”, Roger Taylor está por trás de “Radio Ga Ga” e John Deacon é o responsável por “Another One Bites the Dust” e “I Want to Break Free”. As melhores equipes são aquelas que combinam indivíduos com diferentes expertises e backgrounds, mas o mesmo potencial para brilhar.
- Não dê ouvidos aos detratores
Durante toda a sua carreira, o grupo britânico foi obrigado a lidar com críticos ferozes, executivos conservadores, mídia e fãs homofóbicos. Nos anos 70, quando a banda estourou, a crítica britânica chamava-os de rebuscados. Na década seguinte, parte do público reagiu com homofobia aos trajes de Freddie Mercury e às músicas mais dançantes da banda. Por fim, nos últimos 6 anos, Roger Taylor e Brian May foram criticados por voltar a tocar seus sucessos no palco, mesmo sem Freddie Mercury. Avesso a tudo, o grupo segue lucrando com suas bem-sucedidas turnês ao lado do cantor americano Adam Lambert. Nos negócios, ouvir opiniões diferentes é fundamental. Mas as críticas não devem ser um obstáculo para perseguir os objetivos reais da empresa e permanecer fiel às suas convicções.
Fonte: Época Negócios - 25/02/2019