Por Leonardo Trevisan, professor da PUC-SP
O inevitável rumo da automação nas empresas não gerou só mudanças tecnológicas. O modo de selecionar pessoas, de acelerar carreiras e até de se relacionar com o consumidor mudou. E muito. Até mesmo o perfil de habilidades exigido de todos é outro. Tanto faz se fica perto ou longe do CEO. Ele, inclusive.
Com a pesquisa Hays Global Skills Index realizada em 33 países, a Hays, em parceria com Oxford Economics, mostrou forte desencontro entre as habilidades pedidas pelas empresas e as oferecidas pelos trabalhadores. Ou, vagas existem, mas não são preenchidas. A novidade maior do estudo não está em dizer que essa distância é muito alta em países como o Brasil, fato bem conhecido. Nova é a evidência de que em 16 dos 17 países europeus pesquisados cresceu o número de vagas não atendidas porque as habilidades requeridas não eram encontradas.
Quanto mais as empresas aceleram a mutação tecnológica, maior o gap entre oferta insuficiente e procura insatisfeita por habilidades. Em todos os níveis da organização. A busca por executivos familiarizados com ambiente tecnológico em constante evolução também enfrenta problemas crescentes.
O novo ambiente de negócios depende tanto da convivência amigável com os dados que a inteligência artificial emite de modo ininterrupto, quanto da agilidade em reagir rápido a mudanças sucessivas. Clarke Murphy, executivo de importante empresa de recrutamento de primeiro escalão, a Russel Reynolds, resumiu: “o tempo de resposta (dos executivos aos novos problemas) está bem mais curto”. E explica: “antes existia um tempo para planejar e produzir um lançamento de produto”. Com a automação crescente, “isso, apenas acabou”.
Lidar com essa rapidez de mudanças que a produção baseada em dados (tanto na indústria como em serviços) exige outro tipo de habilidade. Os conselhos querem um CEO capaz de entender melhor o futuro. Esse perfil demanda requalificação constante, sinônimo adequado para atenção à “atualização de sistemas”. Nada diferente do que se pede ao trabalhador.
Esse cenário de mudanças ininterruptas chegou ao ambiente de consumo. Artigo da The Economist sobre os novos consumidores mostra que prioridades são bem diferentes. Quem quiser sobreviver terá de se adaptar ao que a revista chamou de “transparência radical”. Exemplo: na Califórnia, fabricante de roupa vendidas on line faz enorme sucesso mostrando como cada roupa é feita e quanto lucro gera. Nesse artigo, os millennials (nascidos entre 1980 e 2000) são tidos como muito úteis às empresas para convencer todos que experiências são mais importantes que “coisas” para gerar lucros crescentes. Este texto está em: https://blendle.com/i/the-economist/millennial-longing/bnl-economist-20181005-8da238b20c3
“Transparência radical” chega cada vez mais perto da demanda por novas habilidades. Sem qualquer exceção na hierarquia das empresas. E muito menos na projeção de carreiras.
Fonte: Estadão - 06/11/2018