O engenheiro industrial holandês Pim De Morree se diz um eterno otimista. Tem motivos para isso. Frustrado após dois anos e meio de emprego, achou que o problema não era dele, mas da empresa. Com outros três amigos, igualmente decepcionados com a vida profissional, fundou The Corporate Rebels (Os Rebeldes Corporativos) -, a fim de procurar formas mais estimulantes de trabalhar. Encontrou 65 exemplos ao redor do mundo, em ambientes tão díspares quanto uma repartição pública na Bélgica ou uma fábrica de eletrodomésticos na China. O grupo de outsiders se transformou em um grupo de gurus, reconhecidos em prêmios como o Thinkers50 Breakthrough Award e o Top 30 Emergent Management Thinkers. Além de um livro, aguardado para o fim do ano, os rebeldes corporativos dão palestras – como a do dia 5, no KES, em São Paulo. No blog do grupo, os “rebeldes” Freek Ronner e Joost Minnaar dizem que vieram ao Brasil tornar o trabalho mais divertido.
Qual o papel do rebelde dentro de uma empresa?
Os rebeldes são necessários para se levantar contra o modo como as empresas funcionam. A maior parte do tempo, a empresa segue uma determinada forma de trabalhar porque já era assim antes ou porque é assim na concorrente. O papel vital de um rebelde é questionar: fazemos isso porque é a melhor forma?
Qual o problema da forma tradicional de gerir funcionários?
A organização do trabalho faz muita gente infeliz, desinteressada e desconectada. Achamos isso uma pena. Não só para as próprias pessoas, mas também para as empresas. Há um desperdício de potencial e um desperdício de talentos.
Que ambiente de trabalho frustrante é esse?
Trabalhei por três anos em uma empresa grande, depois que me formei em engenharia industrial. Era uma empresa tradicional, com um estilo de liderança baseado em comandar e controlar. Não havia liberdade nem sentido no que fazíamos. A frustração foi crescendo. Tentei uma maneira de tornar meu ambiente mais interessante, mas eu não tinha as ferramentas nem conhecia uma forma diferente de organizar o trabalho. Acabei saindo.
Como tornar uma empresa estimulante?
Dê autonomia para os funcionários usarem o cérebro. Especialmente os funcionários na linha de frente, em contato direto com clientes e fornecedores. Eles conhecem melhor os problemas da empresa. Devem ser capazes de reagir aos desafios que aparecerem. Seria estúpido não dar a essas pessoas o poder de decidir.
Como as empresas pesquisadas pelo grupo dão autonomia aos funcionários?
Encontramos equipes que são livres para decidir seus próprios salários; funcionários que escolhem onde e por quantas horas vão trabalhar, desde que entreguem o trabalho combinado; gente que escolhe seus próprios chefes, numa eleição entre os membros da equipe.
Que tipo de empresa comporta esse grau de autonomia?
Não importa o setor, as pessoas produzem melhor quando estão motivadas. A Buurtzorg é uma empresa de homecare, na Holanda, com 14 mil empregados e nenhum gestor. As equipes se autogovernam e são plenamente responsáveis por seus próprios resultados. Essa empresa sem chefe tem o melhor índice de satisfação dos clientes, o melhor índice de satisfação dos funcionários e o menor custo de seu país, por ter uma equipe enxuta. Outro ótimo exemplo é a chinesa Haier, maior fabricante de linha branca do mundo. Há sete anos, a fábrica de 72 mil pessoas foi desmembrada em milhares de empresas pequenas, que eles chamam de microempreendimentos. Os funcionários são tratados como microempreendedores, que assumem uma fatia da empresa e resolvem desafios por conta própria.
Qual é o lugar de um rebelde numa corporação?
Idealmente, o lugar do rebelde é no topo da empresa. O CEO tem o poder de mudar a forma de trabalho com mais rapidez e impacto. De 65 empresas que visitamos, vimos que rebeldes podem surgir de todos os tamanhos e formatos. Podem estar em qualquer nível da hierarquia. Mesmo na base da pirâmide, podem convencer mais e mais colegas a embarcar em uma ideia.
Qual é o prazo de validade do rebelde dentro de uma empresa?
Não há necessariamente um prazo para promover rebeldia dentro de uma empresa, mas uma transformação radical de cultura costuma levar entre dois e três anos para causar impacto. Esse seria um tempo mínimo para um rebelde conseguir deixar um resultado.
Fonte: Época Negócios - 06/06/2018