O mundo está mais acelerado do que nunca. Thomas Friedman, colunista do The New York Times, defende que há três acelerações que explicam o mundo hoje: das mudanças climáticas, mercado e lei de Moore – que dita que a capacidade dos computadores dobra a cada dois anos. “Essas três acelerações estão interagindo e mudando o mundo em cinco áreas: política, geopolítica, mercado de trabalho, ética e comunidade”, afirma.
Durante evento realizado na Amcham nesta quinta-feira (01/03), Friedman falou sobre como o mundo está sendo redesenhado por essas acelerações. Como resultado da Lei de Moore, diz Friedman, a velocidade de avanço das tecnologias superou a capacidade humana. Segundo ele, a habilidade humana cresceu gradualmente ao longo da história, enquanto a tecnologia pouco evoluiu até o século XX. Mas a partir desse ponto, o avanço tecnológico começa a se acelerar. “Estamos em um momento em que tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana”, afirma.
Para lidar com isso, Friedman defende que as pessoas precisam aprender mais rápido e os governos precisam governar de forma mais inteligente. Ele afirma que o ponto de inflexão foi 2007 – ano em que a Apple lançou o primeiro iPhone, em que os softwares que serviram de base para a computação em nuvem e big data foram lançados, o ano em que o Google lançou o Android e a Amazon começou a vender o Kindle. Foi quando a IBM lançou o Watson, quando o AirBnB foi fundado, e o custo do sequenciamento de DNA e da energia solar começaram a cair. “Foi o principal ponto de transição da tecnologia desde Gutenberg, e ninguém percebeu. Porque em 2008 tivemos a maior crise desde 1929”, diz. “Isso criou um gap entre a tecnologia física e a tecnologia social. Foi quando nasceram muitos dos eleitores de Donald Trump e do Brexit”.
Para lidar com isso no mercado de trabalho, diz Friedman, é preciso encontrar uma forma de transformar a inteligência artificial em assistentes artificiais, que possam ajudar os trabalhadores. Ele deu exemplos de empresas que já estão trabalhando nisso e na formação de seus profissionais nas habilidades requeridas. A AT&T, por exemplo, fez uma parceria com a Udacity para ajudar os funcionários a adquirirem habilidades específicas que são importantes para que façam seu trabalho. “Basicamente, eles querem funcionários que estejam dispostos a aprender a vida inteira. Esses poderão trabalhar na empresa a vida toda”, diz. “Ninguém mais pode se formar e depender só do diploma. O que você aprendeu no primeiro dia de aula na faculdade vai estar ultrapassado já no seu quarto ano”.
Outro exemplo que ele deu foi o de um aplicativo que mede as habilidades e conhecimentos dos profissionais que estão buscando um emprego, e os conectam com empresas que buscam pessoas com essas capacidades, mesmo que não tenham diplomas específicos. “Por causa desse algoritmo, uma mulher que trabalhava como motorista e help desk em um escritório de advocacia, ajudando os advogados a recuperar senhas perdidas, conseguiu um emprego na área de tecnologia na Mastercard. Ela tinha estudado engenharia por três anos e meio, mas teve que largar a faculdade por motivos familiares. Hoje, ela tem um bom cargo na área de tecnologia da empresa, mesmo que ainda não tenha um diploma”, conta Friedman.
Globalização
As acelerações de que fala Friedman também tiveram efeitos na geopolítica e na globalização. A globalização, diz ele, não é mais a movimentação de contêineres pelo mundo – “isso era a globalização para os nossos avós” – mas o fluxo de dados e conhecimento. “Passamos da era do mundo interconectado para o mundo interdependente”, diz. Nesse novo mundo, a economia chinesa em queda é mais perigosa do que a ascenção do país. “Se a China tomar amanhã mais seis ilhas no Mar do Sul, isso não me importa nada”, diz.
Política
Para o colunista, os políticos ainda não se adaptaram à nova lógica criada por esse mundo acelerado. “A oposição hoje não é mais capital versus trabalhadores, e nem entre esquerda e direita”, diz.
Friedman defendeu que se fosse criar uma campanha política atualmente, seria a favor de aumentar as redes de proteção social, para ajudar a população a se adaptar aos avanços tecnológicos e a suas consequências no ambiente de trabalho. Por outro lado, incentivaria o empreendedorismo e o mercado. Diz que acabaria com os impostos sobre as empresas, mas criaria taxas para emissões de carbono, açúcar e armas. “O problema é que na lógica da política de hoje, ou você é a favor de redes de proteção social, ou é a favor do empreendedorismo e das empresas”.
Fonte: Época Negócios - 02/03/2018