Pessoas que lidam com negócios não são divertidas. Estatisticamente, quem trabalha na área vai perdendo seu senso de humor com o tempo. E mesmo que ainda tenha, provavelmente não demonstra essa característica no ambiente de trabalho. Uma pesquisa recente realizada pela Gallup revelou que as pessoas riem significativamente menos nos dias de semana, comparado ao final de semana. Além disso, o levantamento sugeriu que, à medida em que as pessoas envelhecem, param de rir com mais frequência. Mas isso pode estar prejudicando seus negócios e sua empresa, defende Joel Stein, em artigo publicado no site da escola de negócios de Standford.
Outro estudo realizado pelas professoras Jennifer Aaker e Naomi Bagdonas sugerem que quando as pessoas entram no mercado de trabalho, a frequência com que riem e sua percepção sobre se são engraçadas caem consideravelmente.
Mas o humor é uma ferramenta efetiva e pouco utilizada de poder, que oferece uma vantagem competitiva contra os pares, aumenta a retenção de funcionários, proporciona soluções inovadoras e cria equipes mais resilientes ao estresse.
“Se você é uma pessoa que lida com negócios, provavelmente não tem muito tempo para ler porque precisa voltar ao trabalho, o que o leva a se perguntar: há alguma metáfora para que eu possa me lembrar depois de usar o humor no ambiente de trabalho?”, escreve Stein. A resposta é sim: pontes e escadas.
Pontes são estruturas construídas para criar ligações, aumentar confiança e fortalecer culturas. O humor é um ponto porque a risada estimula a produção de oxitocina, um hormônio que facilita a criação de laços sociais, aumenta a confiança e amplia o autoconhecimento. Tudo isso é importante no ambiente de trabalho – e outras formas de liberar oxitocina, como sexo e uso de drogas, costumam ser proibidas pelo departamento de recursos humanos.
Em um estudo de 2015, os psicólogos Alan Gray, Brian Parkinson e Robin Dunbar fizeram metade dos participantes assistirem a vídeos engraçados, enquanto os demais assistiram vídeos “neutros”. Depois disso, as pessoas deveriam participar de exercícios de autoconhecimento com estranhos. Aqueles que haviam assistido a vídeos divertidos revelaram 305 mais informações sobre si mesmos do que os outros.
E quando se trata de pessoas conhecidas, compartilhar risadas e momentos divertidos facilita a aproximação. Em uma pesquisa de 2007, liderada pela psicóloga Doris Bazzini, mostrou que casais que se lembram de momentos quando riram juntos são mais satisfeitos em seu relacionamento do que aqueles que lembravam de memórias positivas, mas que não eram engraçadas.
Mas como usar o humor no ambiente de negócios? Primeiro, ria dos seus defeitos. Isso humaniza os líderes, cria conexões com os funcionários e faz você parecer mais poderoso do que é – afinal, se você pode brincar com suas falhas, deve ser muito confiante de suas habilidades. A prática também mostra aos funcionários que é permitido ser engraçado. Rir de si mesmo, porém, pode manchar sua credibilidade se você está em uma posição mais baixa na organização.
Se você está em uma posição gerencial ou acima ou ainda acabou de conhecer seu interlocutor, é melhor evitar piadas agressivas. Em vez disso, use o humor para destacar opiniões em comum ou concorrentes.
E nunca faça uma piada às custas de um funcionário – ria de você, não dos outros. É bom também tentar perceber se as suas piadas são mesmo engraçadas ou se as pessoas só estão rindo porque estão abaixo de você na hierarquia corporativa.
O humor tem também outra função – a de escada, para aumentar o seu status. Pesquisas conduzidas em 2016 por Brad Bitterly, Alison Wood Brooks e Maurice Schweitzer mostraram que quando alguém faz uma piada no ambiente profissional, tende a ser visto pelos colegas como mais competente.
Um dos ambientes mais efetivos para usar o humor no ambiente de trabalho é em uma mesa de negociação, onde as piadas podem servir como ferramenta de persuasão. Os pesquisadores Karen O’Quinn e Joel Aronoff estudaram um grupo de pessoas durante uma negociação de obras de arte. Quando os vendedores concluíam a oferta final com uma piada, os participantes pagavam 18% mais pelas obras.
O humor também pode facilitar a memorização. O investidor David Hornik afirma que reuniões de conselhos normalmente vão “de tediosas a tristes, então se alguém estiver disposto a correr o risco de fazer uma piada, o valor disso é incrível. As pessoas vão se lembrar”. O biólogo John Medina, autor do livro Brain Rules (As regras do Cérebro, em tradução livre), concorda. Ele afirma que “o cérebro não presta atenção a coisas chatas”. Além disso, a oxitocina, liberada com a risada, ajuda na memória e no processamento de informações.
Outro benefício: ser engraçado pode te ajudar a conseguir um emprego. Uma pesquisa realizada com mais de 700 CEOs mostrou que 985 dos executivos preferem candidatos que demonstram senso de humor e que 84% pensam que as pessoas assim trabalham melhor.
Fonte: Época Negócios - 31/07/2017