Mais da metade dos empregos formais no Brasil (54%) estão ameaçados de substituição por máquinas. É o que aponta um estudo realizado por acadêmicos da Universidade de Brasília (UnB). Nascido no Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações (LAMFO), o trabalho foi feito com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do antigo Ministério do Trabalho, e na classificação O*NET Job Zone, que separa as funções ocupacionais em cinco grupos conforme o grau de preparo necessário.
Em comparação com outros estudos publicados no exterior com metodologia semelhante, o Brasil tem mais empregos ameaçados de extinção do que os Estados Unidos (47%), porém menos que Europa (59%) e países como Uruguai (63%), Argentina (65%) e Guatemala, que tem o maior índice (75% dos empregos poderão ser exercidos por máquinas).
O número brasileiro de 54% significa que essa quantidade de pessoas ocupadas encontram-se em funções classificadas com probabilidade “alta” (60% a 80%) ou “muito alta” (acima de 80%) de serem exercidas por máquinas. Isso porque são funções “tipicamente rotineiras e não-cognitivas”, como ascensorista de elevador (com 99,9% de que o trabalho seja exercido por máquinas no futuro), taquígrafo (99,5%) ou coletor de lixo (89,3%). Também estão na lista tarefas cognitivas num nível já alcançado por formas de inteligência artificial (IA), como recepcionista de hotel (99,1%), cobrador de ônibus (99,3%) e gerente de almoxarifado (93,4%).
Por outro lado, há empregos cuja substituição por máquinas é mais difícil por envolver um alto grau de empatia ou interpretação humana, afirma o estudo. “Ocupações associadas a valores humanos como empatia (assistentes sociais), cuidado (babás) e interpretação subjetiva (crítico de artes) devem ser mantidas no curto/médio prazo, mesmo com a ascensão de tecnologias de ponta”, descrevem os autores.
Há também o fator de que algumas profissões são responsáveis tanto por tarefas que são facilmente automatizáveis, mas também por outras que exigem capacidade humana. Consultores jurídicos (54%), por exemplo: “As competências associadas a essa profissão englobam tarefas mais facilmente automatizadas, como ‘reunir documentação básica’ e ‘agir com prontidão”, assim como tarefas dificilmente substituíveis por uma máquina, tais como “interpretar a norma jurídica”, “demonstrar criatividade” e “evidenciar eloquência verbal”.
Em todos os casos, os autores da pesquisa alertam que as probabilidades apresentadas são aproximações, que não devem ser tomadas de forma exata. Dependem, por exemplo, da tomada de decisão de empresas sobre o quanto é ou não estratégico automatizar funções que possam ser fundamentais dentro de suas atividades.
Mas, considerando as possíveis reduções de custos decorrentes da automação, o impacto pode ser grande. “Caso as empresas decidam por automatizar essas profissões com alta chance de automação então aproximadamente 30 milhões de empregos estariam em risco até 2026”, estimam os pesquisadores.
Fonte: Portal Newtrade - 07/02/2019