Minha primeira escrivaninha tinha uma granada de mão desativada em um canto e um caderno em outro, diz Lizz Schumer, do The New York Times, no artigo que segue.
Como assistente de relações públicas de Kathy Hochul, funcionária do Condado de Erie na época, meu trabalho era fazer com que o escritório (e por extensão, Hochul) parecesse ótima. A granada me lembrava que era preciso uma confiança decisiva para fazer isso bem. E o caderno continha conselhos sobre como desenvolver isso, muitos dos quais eu ainda estou aprendendo.
Quando Hochul me deu meu primeiro emprego de verdade, ela também me ensinou como fazer um escritório funcionar. Ela me treinou sobre como me fazer ouvir em uma sala cheia de profissionais mais velhos e experientes. Comigo inclinada sobre seus ombros, ela editou os materiais que escrevi para ela, aprimorando e aguçando minha voz. E quando eu deixei sua campanha ao Congresso antes da eleição para aceitar um emprego como repórter de jornal, ela defendeu minha decisão.
Mentoria faz a diferença, especialmente para as mulheres
“Quero que as mulheres das quais sou mentora e que estão ao meu redor vejam essas possibilidades, como elas poderão fazer a diferença quando, algum dia, estiverem no comando”, disse Hochul, agora vice-governadora de Nova York. “Eu quero que elas tenham uma visão mais ampla de seu potencial. E para mim, mentoring é tudo sobre deixá-las ver e depois ajudá-las a encontrar o caminho para chegar lá.”
Embora a orientação beneficie todos os participantes, é especialmente importante para as mulheres jovens. Um estudo de 2015 da Faculdade de Administração Hass da Universidade da Califórnia verificou que as mulheres ganharam mais capital social da afiliação com um mentor de alto status do que os seus colegas do sexo masculino. O Departamento do Trabalho informa que hoje 57% das mulheres participam da força de trabalho. À medida que a avaliação demográfica da força de trabalho continua a mudar, incentivar mentores e seus discípulos a procurarem uns aos outros pode ser mais importante do que nunca.
Por que mentoring funciona
A orientação traz avanço para carreiras. Um estudo no Journal of Applied Psychology descobriu que pessoas com mentores são mais propensas a receber promoções. Isso não é por acaso. Jenni Luke, principal executiva da organização nacional de orientação para adolescentes StepUp, sabe que essas relações podem ajudar a impulsionar as jovens mulheres para o sucesso.
“Quando entro em uma sala cheia de pessoas e digo: ‘Levante sua mão se você conseguiu o emprego por meio de alguém’, todas as mãos se levantam”, disse Luke. “Cada pessoa na terra tem um capital social e você quer usá-lo com intencionalidade.”
Mentoria também expõe ambas as partes para novas ideias e perspectivas. Arlene Kaukus, diretora de serviços para carreiras da Universidade de Buffalo, disse acreditar que isso está se tornando cada vez mais e mais importante, à medida que os dados demográficos no local de trabalho continuam a mudar.
De acordo com a Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA, até 2024, menos de 60% da mão de obra provavelmente se definiria como “branca não hispânica”. Os latino-americanos podem representar 20% da força de trabalho em 2024. A proporção de afro-americanos entre os trabalhadores também está projetada para subir, para 12,7% em 2024 dos 12,1% em 2014, e a proporção de asiáticos para 6,6% em 2024 dos 5,6% em 2014.
“A importância de poder ver as coisas a partir do ponto de vista das pessoas diferentes com base em sua experiência de vida, sua cultura, sua etnia, seu gênero, se torna ainda mais importante”, disse Kaukus.
O que o mentoring faz pelos mentores
Luke enfatizou que a orientação não deve ser paternalista. “É bastante recíproca e há muito a ser aprendido com a geração mais jovem”, disse ela. Ambos os lados estão “conhecendo tipos diferentes de pessoas, compreendendo diferentes experiências e realmente desenvolvendo sua própria rede de profissionais jovens e promissores para poder apoiar ou oferecer oportunidades”. Kaukus, que também é voluntária como mentora de estudantes internacionais, disse que também aprendeu muito com aqueles que ela orienta.
Não busque mentores só no trabalho
Embora as mentorias formais costumavam ser de praxe no mundo empresarial, elas caíram no esquecimento. Um estudo da Harvard Business School sobre mentoring constatou que qualquer profissional com mais de 40 anos poderia nomear um mentor, mas apenas alguns jovens entrevistados poderiam. A solução: reimaginar como os funcionários encontram mentores e como esses relacionamentos funcionam.
Em particular, procurar mentores fora de sua equipe no trabalho pode fornecer um “espaço seguro” para perguntas que talvez você não se sentisse à vontade para fazer a um gerente ou a alguém a quem você se reporta diretamente. Esse relacionamento aberto e honesto pode ajudar as pessoas a se sentirem mais apoio no trabalho e, como Kaukus apontou, na vida.
O que torna uma mentoria eficaz?
Mesmo que qualquer pessoa possa servir como mentor, os mentores eficazes cultivam algumas características-chave. “Os mentores dos quais nossas meninas mais gostam são aqueles que são ótimos ouvintes, que veem seu potencial e estão dispostos a dar apoio, em qualquer situação”, disse Luke. “Se eu não estiver compartilhando com você as experiências específicas que ajudaram a moldar minha opinião sobre como fazer as coisas, então não estou realmente ajudando você.”
Clareza e comunicação também são mutuamente importantes. “É realmente útil conhecer as metas concretas que você está perseguindo”, disse Brodsky. “Você também deve ser claro com o mentor sobre por que o que você espera ganhar.”
Kaukus recomenda que se diga a um mentor em potencial por que você o escolheu em particular. E que ponto da carreira, personalidade ou profissão dessa pessoa que o levou até eles.
Como começar
Se você deseja ser um mentor ou ser orientado, consulte o departamento de recursos humanos e procure por organizações profissionais às quais você já tenha pertencido como ponto de partida. Kaukus também aconselha aqueles que fazem parte de uma rede de faculdade ou de ex-alunos a não esquecer tais conexões.
Para aqueles que procuram orientar os outros, Hochul disse que não desconsidera sua capacidade de mentor não apenas formalmente, mas sim liderando pelo exemplo. Se os outros “puderem ver como superei os desafios da vida, e se isso os ajuda a superar esses obstáculos mais facilmente, então, para mim, isso é muito gratificante”, disse ela. ‘Eu tenho de saber que o nosso tempo fez a diferença”, e se nós o passamos “levando inspiração à próxima geração, então missão cumprida”.
Fonte: Estadão - 08/10/2018