Em primeiro lugar, é preciso ter claro, que grande parte de nossos comportamentos são aprendidos ainda na primeira infância observando a família de origem ou pessoas muito próximas. Desde muito pequenos, ficamos atentos ao comportamento de parentes e amigos próximos; mais a diante observamos o comportamento de professores, dos parceiros, dos gestores e até mesmo alguns livros podem se tornar uma referência importante independentemente de serem bons ou ruins.
Sem perceber, ao longo da vida são aprendidas as rotinas que mais tarde se transformarão em hábitos. Algumas ficam tão arraigadas em nosso comportamento que nos torna referência para outras pessoas também. Rotinas desde as mais simples como empilhar moedinhas, escovar os dentes, até as mais complicadas como por exemplo tirar o carro de marcha ré da garagem, já foi em algum momento da sua vida, complicado “pacas” e hoje a maioria das pessoas o faz sem pensar.
Com dinheiro, não é diferente. Aprendemos a lidar com as finanças, observando o comportamento de outras pessoas e nem sempre aprendemos o mais adequado. Alguns podem até aprender finanças na faculdade, mas em uma idade em que muitos dos hábitos financeiros já estão consolidados.
Você se lembra da primeira vez que foi fazer compras sozinho a pedido da sua mãe ou da sua avó e teve que conferir o troco? Ou da primeira vez que preencheu um cheque? Eu me lembro! Suei frio com medo de errar. Hoje colocamos a senha nos cartões, ou aplicativos para efetuar diversos pagamentos praticamente no “piloto automático”, ou como diria o psicólogo israelense Daniel Kahneman, usando o “Sistema 1”, que para ele é uma maneira rápida de se pensar, muitas vezes intuitiva, inconsciente e nem sempre lógica. A nossa maneira, aprendemos a lidar com o dinheiro, e o fazemos quase sem pensar.
Mas, quando o nosso comportamento nos tira o sono ou traz a quem queremos bem algum tipo de prejuízo, é chegado o momento de repensar as estratégias, ver se continuamos alinhados com nossos valores, se estamos em direção a realização, caso contrário, é preciso identificar em que momento nos perdemos no caminho.
Na maioria das vezes, para mudar o comportamento ou para de fato nos comprometermos com o planejamento financeiro é preciso um “gatilho” seja ele uma experiência emocionalmente marcante como o nascimento de um filho, a perda da fonte de renda ou um objetivo importante como um curso no exterior. É necessária uma situação que nos tire do pensamento rápido, dos atalhos mentais (heurísticas) que por muitas vezes nos conduzem a erros sistematicamente. É preciso parar para pensar.
Para mudar de hábito, é necessário que este seja substituído por um novo.
Colocar prazo nos sonhos pode ser um primeiro passo para esse comprometimento. Reúna a família para falar de aspirações e como terão de se planejar para realiza-las. Feito o planejamento, tê-lo por perto é muito importante, para que ele faça parte da nova rotina e as estratégias se transformem em um hábito saudável.
A ajuda de um planejador financeiro certificado é importante, ele não está envolvido emocionalmente e tem conhecimento técnico para ajudar com as contas. Nas dívidas ele pode orientar quanto a priorização de pagamentos e em caso de sobra de recursos, a maneira mais adequada de se investir observando o perfil da família, prazo e planos.
*Por Paula Sauer é planejadora financeira pessoal
Fonte: Época Negócios - 17/10/2017