O mercado sul-americano cresce mais do que a média mundial, demonstrando que há potencial de desenvolvimento do consumo per capita para os próximos anos. Pontos favoráveis são a situação econômica estável e o crescimento vegetativo da população.
As perspectivas na América do Sul se mostram muito atrativas. O consumo per capita teve um crescimento anual notável de 1,6% na última década e é improvável que em um futuro próximo se reduza, uma vez que é favorecido também pelo crescimento demográfico. Os países com maior crescimento de volume deverão ser Chile, Argentina, Guatemala, Costa Rica e Brasil. A rede de distribuição não será um obstáculo. O aspecto geográfico é ligeiramente negativo, mas os preços e a composição de mercado permitiram aumentar os lucros em cerca de 2,5% em 2004, e em 2005 cerca de 2,7%.
O crescimento do consumo na América do Sul
O mercado mundial de cerveja em 2004 foi de 1.550 milhões de hectolitros, aumentando a uma taxa de crescimento anual composto de 2,4% na última década. Essa tendência positiva é impulsionada principalmente pela crescente importância dos mercados emergentes de rápido crescimento como a China e Rússia. Os mercados maduros como os Estados Unidos e em especial a Europa Ocidental, estão estagnados ou decrescendo há cerca de uma década.
O comportamento dos mercados sul-americanos se divide entre o dos mercados dos países da Europa Oriental de rápido crescimento e os mercados ocidentais saturados. Em conjunto, os mercados sul-americanos representam 10,3% da produção mundial de cerveja. Os seis maiores mercados sul-americanos (Brasil, Venezuela, Colômbia, Argentina, Peru e Chile) representam 94% do consumo total de cerveja na América Latina. Alguns desses países apresentaram excelentes taxas de crescimento durante a última década, como o Brasil (+27,9%), Venezuela (+24,1%), Argentina (+19,0%), outros não apresentaram taxas tão elevadas, como o Chile (+5,2%) e alguns demonstraram queda acentuada, como a Colômbia (-14,2%) e Peru (-19,8%).
Durante a última década, a taxa de crescimento anual composta do mercado sul-americano de cerveja foi de 2,1%.
O consumo per capita apresenta diferenças acentuadas nos mercados sul-americanos. O Brasil domina o mercado e é o quarto maior produtor mundial de cerveja, com um volume de produção de 89 milhões de hectolitros (2004). O mercado brasileiro é seguido, com uma distância bastante grande, pela Venezuela (21,5 milhões de hl), Colômbia (15,4 milhões de hl) e Argentina (13,5 milhões de hl). Um terceiro grupo é constituído pelo Peru (6,5 milhões de hl), Chile (4,3 milhões de hl) e Equador (3,5 milhões de hl).
Os sete países latino-americanos restantes não tem expressão em termos de volume. Pode-se observar também que alguns mercados atingiram consumos per capita bastante elevados (com volumes que oscilam entre 50 e 80 litros per capita/ano).
A Venezuela aparentemente não oferece muito espaço para um futuro crescimento do consumo per capita e apresenta um consumo per capita em nível de saturação, que decresce há alguns anos. O Brasil apresenta consumo per capita na casa dos 50 litros. O consumo dos demais países oscila entre 20 e 35 litros per capita/ano e apresentam potencial de crescimento para os próximos anos.
No mundo, o consumo varia de quase 160 litros de cerveja per capita/ano (República Checa) até volumes menores, como no caso da China, 18 litros per capita ano, porém o maior produtor mundial de cerveja.
Consumo per capital (litros / habitante) |
|
Rep. Checa |
158 |
Alemanha |
115 |
Reino Unido |
97 |
Austrália |
92 |
Estados Unidos |
84 |
Espanha |
75 |
Japão |
56 |
México |
50 |
Brasil |
47 |
França |
36 |
Argentina |
34 |
China |
18 |
Fonte: Brewers of Europe, Alaface e Sindicerv (2002-2003)
O mercado sul-americano é dominado por grandes marcas, opostamente ao mercado cervejeiro mundial, onde existe uma estrutura de marcas fragmentada. Em 2004, as dez maiores marcas de cerveja mundiais representavam apenas 18,6% da produção mundial de cerveja, enquanto que as maiores marcas sul-americanas representavam 51,8% da produção latino-americana de cerveja: Antarctica (9 milhões de hl), Polar (11,1 milhões de hl), Schincariol (11,4 milhões de hl), Brahma (19,7 milhões de hl) e Skol (31,2 milhões de hl).
Os dez maiores grupos cervejeiros no mundo:
Lugar |
Nome |
País |
Prod. anual (milhões hl) |
Part. de mercado (%) |
1 |
InBev |
Bélgica / Brasil |
165 |
11,2 |
2 |
Anheuser Bush |
EUA |
164 |
11,1 |
3 |
SABMiller |
África do Sul / EUA |
138 |
9,3 |
4 |
Heineken |
Holanda |
122 |
8,3 |
5 |
Carlsberg |
Dinamarca |
120 |
8,1 |
6 |
Molson / Coors |
Canadá / EUA |
60 |
4,0 |
7 |
Modelo |
México |
42 |
2,8 |
8 |
Asahi |
Japão |
35 |
2,3 |
9 |
Scottish & Newcastle |
Inglaterra |
32 |
2,2 |
10 |
Femsa |
México |
25 |
1,8 |
Fonte: Infodienst – Alemanha - 2004
Os principais mercados cervejeiros
Como já mencionado anteriormente, os seis mercados líderes detém 94% do consumo total de cerveja na América Latina.
O Brasil é o quarto maior mercado mundial de cerveja (89 milhões de hl em 2004), após a China, Estados Unidos e Alemanha e está crescendo a uma média de 2,5 % ao ano. O consumo per capita tem se mantido estável na última década e oferece condições de crescimento, podendo atingir o patamar dos outros grandes mercados. A estrutura do mercado teve mudanças radicais nos últimos anos. Primeiro ocorreu a fusão da Brahma e Antarctica (março/2000), que resultou na criação da Ambev, que controla 68% do mercado de cervejas e cerca de 40% do mercado total de bebidas.
Em 2001, o grupo canadense Molson adquiriu a marca Bavária da Ambev e posteriormente a Kaiser, (que tinha 14% de participação de mercado). Ao final de 2004 a Schincariol aumentou sua participação a cerca de 12%, se convertendo na cervejaria número dois do mercado brasileiro. A maioria das vendas no Brasil (70%) se realiza no segmento de locais de consumo em garrafas retornáveis de 600 ml. A tendência sempre foi a distribuição conjunta de refrigerantes e cerveja, uma vez que não se requer licença de venda de bebidas alcoólicas na maioria dos pontos de venda.
Recentemente a Kaiser mudou de mãos, da canadense Molson para a mexicana Femsa.
O Chile é dominado pela CCU, com 90% de participação, enquanto que a entrada da Quilmes há cerca de 10 anos, impulsionou o mercado publicitário chileno. Entre 1998 e 2002 o consumo estagnou, por acusa dos menores gastos com consumo e pela redução do preço do vinho no mercado interno. Durante o período de 2004-2005, houve um aumento do consumo como resultado da recuperação do consumo local e das safras de uvas ruins que aumentaram os preços dos vinhos, o principal substituto da cerveja no Chile.
Apesar da elevada participação de mercado da CCU, a Quilmes/AmBev deverão apresentar concorrência mais acentuada, com preços mais agressivos. Em 2004, as vendas de cerveja se realizaram (70%) em garrafas de vidro retornáveis. No entanto, o consumo em pontos de venda é relativamente baixo.
A Argentina aumentou consideravelmente seu consumo de cerveja durante o início da década de 90, refletindo uma situação economicamente favorável e a mudança para bebidas com menor teor alcoólico. A desaceleração econômica no final da década de 90 fez com que o consumo de cerveja se mantivesse estagnado durante esse período. As principais cervejarias argentinas são a Quilmes (77%) e CCU (15%). Em maio de 2002, a AmBev e a Quilmes anunciaram um acordo para integração de operações. Isso fez com que a Quilmes recuperasse sua liderança e implementasse novas estratégias comerciais que tendem a aumentar o consumo per capita. A participação de mercado da Quilmes e AmBev é de cerca de 80%. A maioria das vendas na Argentina (mais de 80% em 2004) é feita através de distribuidores independentes que geralmente possuem exclusividade de venda de produtos da empresa em uma área determinada.
A Colômbia apresentou em 2004 um consumo per capita de 34,2 litros. Em meados dos anos 90, o consumo per capita era de 53 litros (para uma produção de 20,4 milhões de hectolitros). Essa queda no consumo teve como origem a profunda crise econômica no final da década de 90, e demonstra também que não há obstáculos para que o consumo volte ao seu nível histórico de 40-50 litros per capita/ano. Prognósticos de organismos internacionais mostram que o mercado colombiano deverá crescer cerca de 2% ao ano, nos próximos cinco anos. A Colômbia apresenta um mercado cervejeiro atraente, com um consumo per capita relativamente baixo, elevada concentração de mercado (cervejaria Bavária, com 99,6% de mercado), altos preços e ambiente econômico estável. A AmBev repetiu o sucesso alcançado em outros países quando adquiriu franquias da Pepsi e as combinou com a construção de novas cervejarias.
O mercado peruano de cerveja (6,5 milhões de hl em 2004) é quase que totalmente controlado pela Backus (cerca de 99,6%). O consumo per capita é baixo (apenas 23,9 litros), se comparado com os 34 litros em meados da década de 90. O mercado está se recuperando da queda acentuada de produção entre os anos de 1997 e 2001. A AmBev começa a atuar no mercado peruano e ganha espaço rapidamente.
A Venezuela é um mercado altamente competitivo, com um consumo per capita relativamente alto (82,5 litros – em 2004). A participação de mercado é dividida entre Polar (67%), Regional (19%) e AmBev (13%). A AmBev ingressou no país em 1994, adquirindo a Cervecera Nacional e passou a produzir suas marcas Brahma e Brahma Light. Acredita-se que em 2010 a AmBev passe a ter uma participação de mercado de 25%. O consumo per capita, que já foi de 87 e 90 litros (em 2000 e 2001, respectivamente), sofreu uma queda de 20% entre 2001 e 2003, apresentando uma retomada em 2004-2005.
Espera-se que o mercado cresça cerca de 4% nos próximos cinco anos, dependendo da estabilidade política e econômica.
Fonte: Matthias Rembert Reinold
Mestre Cervejeiro Diplomado